segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Coisas de Yára II


Ontem, quando tocou a campainha, ai, que bom!, era de novo Yára quem batia à porta, chegava pra tomar um chá neste friozinho que tem feito por aqui. Tinha até neblina baixa no fim da tarde, deixando a nossa pracinha com cara de vila europeia... segundo nossas fantasias sobre uma vila europeia, claro... Vamos entrando, Yára querida, que o fogo já está aceso, os biscoitinhos na travessa...


Como é que um livro te pega?

Porque tem isso. Às vezes eu entro na livraria com título, nome do autor, tudo escolhido e pensado. Mas tem vezes que só estou passeando, xeretando as novidades e de repente um livro me pega, parece que me dá uma piscadinha e pronto. Sei lá como ele está empoleirado a caminho de casa! Repare que esses a gente lê rapidinho, às vezes termina no ônibus ou no café, antes mesmo de chegar em casa.

Um livro me pega pela capa, por uma diagramação diferente, por uma orelha bem escrita, e muitas vezes me pega pelo título, que foi o caso desse aqui: Os comes e bebes nos velórios das Gerais. Vem cá, com um título desse você também não fuçaria no livro?

É um livro com 18 histórias acontecidas e 21 receitas para fazer em casa. As histórias são causos engraçados, acontecidos no interior de Minas Gerias, muitas vezes em velórios, que foram recontados por Dona Déa.

Tem a história da avó que morreu fora de hora e deixou a nora preocupada, porque o marido não tinha comprado um túmulo, e ia ser o maior falatório na cidade enterrar a avó em uma cova rasa. No fim dá-se um jeito, e o enterro é um sucesso: túmulo imponente, comes e bebes dos melhores! O que ninguém na cidade ficou sabendo é que o túmulo era emprestado.

Tem também as peripécias de Sinhá Guilhermina depois de morta. A mulher era detestada no vilarejo e teve um enterro dos mais atribulados, com direito a sustos nos compadres que estavam no velório e até nos coveiros.

Além de escrever os causos, Dona Déa foi buscar as receitas mineiras tradicionais, daquelas que são passadas de mãe para filha. Ela conta que várias vezes fez a receita junto com a cozinheira, que era para transformar as medidas de costume em medidas de xícara e colher.

O projeto gráfico do livro é lindo. As receitas estão impressas em branco sobre páginas coloridas. Junto de cada título tem a foto de um objeto antigo, desses de casa de fazenda.

Se você achou a receita dificil, vai lá, pede ajuda para a sua avó, para aquela tia que só vê no Natal, ou até para a vizinha mais experiente. Aproveita e puxa uma prosa que é bem capaz de você conhecer mais alguns causos divertidos.

Os comes e bebes das Gerais e outras histórias, por Déa Rodrigues da Cunha Rocha. Editora Auana, 2008. As fotos são de Fifi Tong.

Tô saindo para um congresso, então o dia de hoje foi uma corrida: deixar a filha na casa da avó; terminar as medidas da sala, que vai ganhar uma iluminação nova, e mandar para a arquiteta; fazer a mala; levar o que sobrou na geladeira para a minha mãe, já que a minha casa vai ficar fechada uma semana... Daí que o jantar foi um caldo de abóbora, que eu fiz ontem, com uma massa recheada com mussarela, que cai muito bem com esse frio.

Misturei dois tipos de abóbora, a mais alaranjada, de pescoço, de casca lisinha e rajada, conhecida como abóbora seca rajada, e a abóbora cabotiã ou japonesa, de casca verde escura e rugosa. Num fio de azeite refoguei um alho poró generoso com um tiquinho de cebola. Juntei as abóboras picadas, água quente, sal e caldo de legume em pó. Se ainda tivesse caldo de legume congelado, eu teria substitutido a água e o caldo em pó por ele, mas com o frio desta semana, não sobrou caldo caseiro, tudo foi para as sopinhas de jantar.

Depois de cozido, bati tudo deixando um caldo não muito grosso. Hoje separei uma porção para mim, pus uns 4 raviólis grandes, recheados de mussarela para cozinhar junto e pronto. O que sobrou do caldo vai para o congelador. Quando eu voltar do congresso, é só descongelar o caldo e pôr de novo massa para cozinhar. E aí a sopa fica com cara de recém-feita.

Ih! Vi que não tem medida nenhuma na sopa. Abóbora: uns 400 g de cada tipo; um alho poró grande. Pus mais ou menos um litro de água.

Ciao Luciana, nos vemos na volta, e tá combinado o café com as amigas da dança.

Um comentário:

  1. Hum... que delícia de receita! Adoro abóbora e massa com mussarela. Logo estarei experimentando esta.

    Este livro deve ser uma preciosidade, com receitas e "causos" da minha terra.

    Meu marido, mineiro também , conta que um avô moribundo ao sentir o cheiro do pão de queijo
    assando, que se espalhava pela casa, pediu ao neto:
    -Vai na cozinha e pede um para mim - tendo ouvido a resposta:
    -Eles não dão, é para o velório!

    kikikiki... Humor negro do "Sô Flávio"!

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