quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

os votos

Gosto desse rito coletivo de pensar que o novo vem, está vindo, que há razão pra respirar fundo, dar as mãos e sentir o corpo tomado do fôlego necessário pra seguir adiante.
Gosto da ideia de que há novos ângulos e entendimentos possíveis, de que a cegueira de uns pode se desfazer quando encontra a visão de outros, de que as inflexibilidades podem ceder e dar-se ao movimento...


Gosto da ideia de que podemos, despertados pelo rito, olhar de novo o que já passava despercebido aos nossos olhos, retomando a poética da existência, a dimensão estética do gesto de cada dia, que é também expressão da dimensão política de cada uma das nossas práticas...

Gosto de saber que teremos força pras descidas profundas, porque há sempre delas quando se está em movimento: transformar-se, como bem sabemos, exige! Não é apenas uma fala consciente que produz a transformação - ah, não é mesmo -, é uma convicção de outra ordem o que nos permite encarar o hades e só aí, então, poder fazer algo novo (que seja novo pra valer!) de nós mesmos.


Gosto de pensar que haverá tempo pra entrega - ora extenuados da luta (porque há disso em toda vida que se movimenta), ora aliviados pelas conquistas (porque há disso também na vida de quem se dá honestamente à luta).

Porque essa entrega é sempre prenúncio de subida, de retomada, de prosseguimento, de encaminhamento... dessas coisas que são a luz, a boa luz, a Luz.
Que nos permite estar confiantes diante das escolhas a fazer, que a todo tempo se põem, com mais ou menos importância, mas sempre decisivamente - nos usos do dia a dia, nos votos que fazemos, nos pensamentos que alimentamos, na vontade que partilhamos, na fé que cultivamos...


Que seja, então, um tempo de florescer com a singeleza que sustenta os grandes feitos. Afinal, não há ato heróico que seja mesmo fundador se não estiver apoiado nessa verdade miúda, construída a cada hora, a cada troca de partículas que acontece em nossas moléculas, a cada minúscula agitação que faz a inteireza de cada um de nós na relação ininterrupta com o que está à volta.

Que seja, enfim, um feliz ano novo!