sábado, 19 de junho de 2010

ovos cozidos recheados


Uma das muitas coisas que aprendi lendo José Saramago foi pensar no tempo como experiência de temperança. Pra quem não conhece nada de Saramago, eu sugeriria a crônica “O tempo e a paciência”, publicada no livro A bagagem do viajante.

No mais, rendendo homenagem, ofereço uma receita portuguesa daquelas bem simples e lindas.

Antes de mais nada, sobre os ovos (de galinhas felizes sempre!), lembremo-nos de que são alimentos dos mais preciosos, gerados num longo e complexo trabalho, a serem usados com parcimônia. Aliás, que alimento poderia ser tratado de outro modo...?


Vamos aos ovos cozidos recheados.

Cozinhe quantos ovos lhe parecer. Depende do número de convivas, dos acompanhamentos, etc. Acho que combina com tudo. Inclusive como entrada de um jantar mais sofisticado.

Eu gosto de cozinhar em pouca água e em fogo bem baixo. O importante é que os ovos cheguem a uma consistência firme o suficiente pra partirmos ao meio sem desmanchá-los.

Então, partidos, retiram-se as gemas, que vão ser esfaceladas num pote à parte. 

As claras são mergulhadas numa mistura de azeite, sal e temperinhos. Eu gosto de um pouco de alho ou alho poró socados; pó de alecrim também é bom, ou cebolinhas maceradas... a experimentar. Deixe as claras mergulhadas por uns minutinhos, depois organize-as numa travessa conforme seu “projeto gráfico”. Fica bonito e bem gostosinho cortar tomates (misturando maduros e verdes) em pedaços miúdos, que são mergulhados na mesma mistura de azeite e temperos das claras, e vão pra travessa entremeando as canoinhas brancas. E também fica muito saboroso com fitas de pimentão vermelho grelhadas.

Lá no pote à parte, mistura-se às gemas o que sobrar da mistura de azeite e temperinhos, acrescentando um tempero verde fresco e uma pimenta. O que me foi ensinado como “clássico” é cheiro verde picado bem miudinho e pimenta do reino (acho que moída na hora fica mais gostosa).

Daí é fazer a massa de gemas usando um bom garfo. É só amassar bem e ir corrigindo com azeite, conforme a consistência pretendida. Já está: basta preencher gentilmente as canoinhas de clara com esse “patê” de gema.


Há quem salpique parmesão ralado bem fininho por cima do prato montado. E mais azeite. Ou azeitonas.

Por fim, eu podia dizer que é uma receita bem rapidinha – uma qualidade muito procurada nas receitas. Mas o que importa aqui é que é simples, e que permite a experiência do tempo vivido mesmo que seja rápido.

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