Já vou logo avisando que é baunilha mesmo, da vera baunilha, a flor: uma orquidácea que, seca, guarda aquele aroma tão peculiar, que é imitadíssimo, mas, no fim das contas, inimitável. Em geral são mesmo enjoativos os produtos que têm a “baunilha de laboratório”. Mas eu ganhei duas flores já secas, nunca tinha visto. Ficam parecidas com pauzinhos de canela macios, porque se deve secar a flor toda coladinha, de comprido.
O amigo querido que me deu esse presente disse que costuma deixar um filete de baunilha no açucareiro, o açúcar fica simplesmente dos céus. E não tem nada a ver com o adocicado de confeitaria prêt-à-porter; é um aroma de flor.
Claro que esta compotinha pode muito bem ser feita sem a baunilha – dá certo e é boa toda vida. Com um queijinho meia cura bem curtido, então... Mas esse tequinho de baunilha natural que a gente põe faz a compota ser outra, juro.
As goiabas por aqui andam muitas e tenras, e eu, doida por um docinho. Daí foi só juntar os ingredientes – tirando a baunilha, tudo coisa do dia a dia:
- 5 goiabas vermelhas – umas bem madurinhas, outras mais verdinhas (esse contraste é importante)
- 2 xícaras de café de água
- 4 cravos
- um tiquinho de noz-moscada (ralada na hora)
- 1 cm de baunilha seca
- mel quanto baste (ele adoça e também dá uma textura)
A sequência de passos é importante:
Pique as goiabas, deixando as cascas (bem lavadas, retiradas impurezas e bicadas de passarinho), jogue-as numa panela de fundo mais grossinho (eu uso uma de barro), use fogo baixíssimo. Aliás, o tempo todo: baixíssimo. As compotas são doces curtidos, doces que não dão trabalho mas levam tempo.
Depois de um minutinho, acrescente o açúcar mascavo, misture, deixe mais um minutinho. Acrescente, então, a água, misture bem, deixe mais um minutinho. Daí acrescente o cravo, a noz-moscada ralada na hora e a baunilha, que deve ser gentilmente esmigalhada sobre a mistura.
Só o mel vai esperar pra entrar.
Mexa bem e deixe o molho reduzir. Vá ler, ouvir música, lavar o quintal, passar roupa, brincar com os cachorros, olhar emails... Volte de vez em quando e mexa.
A goiaba vai começar a desmanchar, a gente ajuda com a colher de pau, macerando os pedaços maiores, mas sempre deixando sobrar algum pedaço. A ideia não é um creme homogêneo, pois os pedacinhos com casca têm um azedo ligeiro que é imprescindível no meio do doce.
Quando a mistura estiver pastosa, acrescente o mel, mexendo suavemente. Desligue o fogo e deixe a panela esfriar. Nas panelas mais grossinhas, ainda ficam acontecendo umas borbulhas. Ótimo, a ideia é depurar um pouco mais, deixando evaporar ainda um pouco de água. Não tampe.
Quando a panela estiver morna, passe a mistura pro vidro onde a goiaba vai curtir na geladeira, por 24 horas no mínimo. Em tempos frios, tiro da geladeira pelo menos meia hora antes de servir; nos tempos de calor, tá valendo gelada mesmo.
A baunilha é muito sedutora, insinuante, agradável. Faz da compota um pitéu. Recomendo.
Agora, se estiver sobrando goiaba e não houver baunilha na casa, faça assim mesmo (que doce de goiaba é tudo de bom); mas cogite descobrir onde há baunilha de verdade por perto, pra experimentar esta versão divinal.
***
Sobre batata doce com whisky, hoje fiz de novo, mas a batata doce era daquelas de polpa roxa – fica linda toda vida! E vai muito bem com bastante cebolinha fresca picada em tirinhas bem finas.
Esta baunilha deve ser uma que parece uma fava
ResponderExcluire eu já vi em casa de produtos naturais.
Também vi "chefs" usando na tv.