sexta-feira, 19 de março de 2010

as mulheres e o momento


Eu sei que não se deixa um blog assim, dez dias sem post… Um blog pede vivacidade. Mas isso há de ser diferente de velocidade – o que resultaria em postar por postar, só pra cumprir uma praxe, e aí, num mundo de overdoses, eu estaria contribuindo para aquilo que mais lamento viver: esse excesso em que mergulhamos, essa imensa confusão de mensagens que lembra o “Fim do mundo do fim”, de Julio Cortázar, aquele pequeno conto que está no livro Histórias de cronópios e famas (pra quem não conhece, achei-o transcrito aqui).

…Estive envolvida numa longa e bela peleja estes dias, quando muitas mulheres bacanas se puseram na disputa por uma vaga (num concurso) e, junto com elas, em igualdade de condições, homens bacanas também. O que, convenhamos, ainda é raro…

Mas outras pelejas estão se dando. Sempre estão, que a vida é um pelejar sem fim.

As mulheres bem o sabem, têm uma história de lutas que lhes é muito peculiar, porque é de lutas intensas pela sua condição de mulher, lutas que nos são impostas nestes tempos de ruína da organização patriarcal; lutas por seus filhos, homens e mulheres pelos quais elas são capazes de muita coisa; lutas por seus companheiros de vida, maridos, amigos, irmãos… As mulheres, pela grandeza histórica que tiveram de se construir, estão cada vez mais atentas à força de sua contribuição neste momento: para um mundo novo, novas deverão ser as relações, mais solidárias, mais horizontais, mais voltadas à receptividade, dando acolhida às experiências emocionais que são parte fundamental das relações humanas, do trato entre os viventes, da política enfim.

Assim, desta cozinha hoje só sai isto: um pensar a sério sobre o papel das mulheres neste período que vivemos. Não como um poder que quer sobrepujar os homens, massacrá-los, espezinhá-los, vencê-los… nada disso! Seria continuar o mesmo jogo de poderes que herdamos, apenas tentando inverter papéis, mas vitimando do mesmo modo, despotencializando do mesmo modo… O que há de bacana agora é as mulheres, no seu imenso desejo de “andar junto”, congregarem forças, aglutinarem diferenças, criarem ocasião para o encontro de muitos, de todos, pelo menos de todos aqueles que quiserem se achegar, sentar à mesa, dizerem a quê vêm.


















A foto acima é do boletim Carta Maior, vem de notícias sobre as bravas mulheres que terminaram sua caminhada ontem, na cidade de São Paulo. Símbolo da potência desse feminino que pode, sim, mudar um monte de coisas, elas fizeram, em cada um de seus gestos, ao longo de dez infinitos dias, o registro dessa luta maior que é de todas nós, de todos nós; é certamente a luta dos que levam no coração a boa vontade.

2 comentários:

  1. Fiquei tão emocionado lendo esse texto que não tenho palavras a não ser a de ter ficado contente em saber que homens e mulheres bacanas participaram de um concurso, um contexto que geralmente não é tão bacana assim. A foto dessas mulheres andarilhas está linda. Definitivamente o feminino quando assumido com boa vontade emociona sempre e essa é a força de que todos precisamos, homens e mulheres

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  2. Oi Lú!
    Sou a Mari, amiga do Josafá.
    Lindo post, que orgulho!
    Sempre dou uma olhadinha no seu blog, mas nunca comento. Aqui estou, antes tarde do que nunca, né!
    Parabéns pelas palavras e as delícias que vc compartilha conosco!
    E mais do que merecido, parabéns pela conquista! Brilhe muito, muito, muito..

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