Sabe-se que o cará, considerado por muitos “parente do inhame”, tem lá suas diferenças com o tal. Em todo caso, são dois purificadores maravilhosos e, cada um a seu modo, podem trabalhar em favor de nossa imunidade. Muitíssimo. Mesmo.
Mas é gozado como aqui em São Paulo ele é frequentemente tratado como comida de gente antiga (“minha mãe fazia lá em...” ou “a avó da fulana sempre...”) ou como comida de gente pobre (um demérito, conforme a classificação dos pobres de espírito – que deles há muitos por aí...). Pois o tal do cará costuma ser rejeitado hoje, sobretudo pelos pouco afeitos à cozinha de todo dia, tanto porque o que se considera chic é cozinhar pratos “incríveis” em “dias especiais”, tanto porque o cará não tem um aroma retumbante (pois é, a acultura dos flavorizantes fez, sim, um estrago enorme nos paladares...) e ainda por cima solta uma gosminha etc.
Bom, de saída, fritar em rodelinhas já elimina esse “problema” da famosa gosminha – e isso basta pra sentir o sabor incrível desse superfortalecedor do organismo. Mas como não sou dada a frituras, conto um modo cotidiano de preparar o dito cujo, fácil de fazer toda vida: cará na farinha de rosca. E, sim, está valendo usar inhame.
Cozinha-se o cará no vapor, de preferência. Usei 5 pequenos – só pra dar uma ideia da quantidade relativa aos outros ingredientes.
Observação: o cará cozinha rápido, e como ainda vai passar pela frigideira, é bom não perder o ponto: quanto mais a gente vai cozendo um alimento, mais energia dele vai perdendo, né?
- duas cebolas médias em lascas verticais, mais pra finas;
- um ramo de cebolinha;
- dois dentes de alho gordinhos.
Ah, estou considerando que a farinha de rosca já estava pronta, pois costumo passar no liquidificador as sobras de pão, dois dias depois, quando o pão já está durinho, esfarinhando.
As lascas de cebola vão ser refogadas num bom fio de óleo (um fio, não é pra fazer piscininha), numa frigideira ampla, que permita ficar mexendo sem seu conteúdo cair pelas bordas. Elas, as lasquinhas de cebola, ficam ali sozinhas até começarem a dourar (na verdade, quase queimar – isso dá um gostinho supimpa na farinha!).
Aí, nesse momento do quase queimar, é que entram os pedacinhos de alho, que logo douram.
Então, vem a farinha de rosca, e o negócio é ficar mexendo pra lá e pra cá, pra ela tostar aromatizando-se. Usei uns 100 gramas (não é exatamente uma farofa, então não usamos muita, e também dá pra usar farinha de mandioca, fica com outro gostinho, muito bom. Mas o lance aqui na cozinha hoje é aproveitar o pão dormido).
Nesta altura, entra a cebolinha picada. E eu pus também uns bons pingos de pimenta de cheiro.
Tudo isso em fogo médio pra baixo, sendo remexido o tempo todo, naquela agilidade animada que tostar uma farinha requer.
Estando sutilmente tostada (e não queimadinha, como era o caso da cebola), tire a mistura da frigideira e reserve, sem tampar (pra ela não correr o risco de “amolecer”, umedecer com o bafo etc.). Na mesma frigideira, com os resquícios da mistura que preparou (não vale lavar, pois se perderia parte do tempero), jogue dois ovos (de galinhas felizes, claro!) batidos como se fosse pra omelete. E mexa, pra eles ficarem em pedacinhos, que você deve salgar com parcimônia.
Daí é juntar com esses ovos mexidos, na frigideira, com o fogo desligado, o que estava reservado, e picar o cará cozido em pedacinhos bem miúdos, quadraditos. Pinguei umas gotas da mesma pimenta de cheiro e pus um pouco de sal nesses quadradinhos antes de juntá-los a tudo o mais, pra uma última remexida, ligeiramente tostante.
Observação: é possível acrescentar os quadradinhos de cará antes de fazer a operação com os ovos, isso o deixará mais tostado, mais sequinho. Do modo como fiz, ficou mais pra molinho, como se fossem minibolinhos “empanados” pela mistura de farinha de rosca.
O tempo total de preparo?! Custa mais explicar que fazer: uns 15 minutos, se tanto.
Com um feijão do Rixá, um creme de abóbora simples, mais um arroz integral cozido com brócolis, cara, viva o cará! Tudo de bom!
Nenhum comentário:
Postar um comentário