sexta-feira, 7 de maio de 2010

chuchu assim e assado


Ontem, quando nos sentamos à mesa, alguém comentou: “nossa, mas é o festival do chuchu!”. De certo modo era uma reclamação, mas eu não liguei muito, sei dos cacoetes que todos temos, e que alguns têm o cacoete de reclamar, pequenas reclamaçõezinhas, bufadas ao longo do dia, piadinhas em forma de praguejamentos... 

Há quem veja esses xinguinhos como inofensivos, mas eu tendo a achar que não fazem bem, não; parece que vai acontecendo um efeito “mântrico”: evoca-se, a cada pequena praga rogada, um certo espírito, um certo clima, um certo modo de habitar o mundo, e acho mesmo que isso vai dar numa espécie de sintonia com o que vibra aí, no lugar do desgosto, do desconforto, do mau humor...

Mas, enfim, o que importa aqui é dizer que, estando a gente de bom humor, é deixar esse tom ecoar pela cozinha sem lhe dar força: não repliquei, não comentei e gostaria de dizer que ignorei... torço pra chegar a fazê-lo um dia.

Em todo caso, a meu favor há o próprio chuchu. Trata-se de um alimento riquíssimo, relativamente abundante e barato, cheio de potássio, vitamina A e C, cujos brotos têm também vitamina B, cálcio, fósforo, ferro... e por aí vai. E se alguém acha que o chuchu é sem gosto e prefere tomar isotônicos de grife pra repor os sais minerais, é porque não soube preparar esse fruto – o que pode ser bem fácil.

Aqui vai o chuchu assim

Pra fazer rapidinho e comer com arroz, feijão e uma bela salada: depois de superbem lavado e de retiradas aquelas partezinhas da casca que espetam (nem todos têm disso), rale o chuchu inteiro no maior buraquinho do ralador, pingue uma pimentinha de cheiro nele ralado e misture, pra ir “pegando”, reserve.

Numa frigideira, verta um fio de óleo suficiente pra “lavar” toda sua extensão, mas sem fazer pocinha. Aqueça em fogo médio um pouquinho e jogue alho – uns 2 ou 3 dentes médios: picado em quadradinhos mínimos-ínimos, bem esmagados ou em flocos, de modo que se espalhem sobre o forro de óleo.

O alho logo vai dourar – é bem rápido mesmo! Aí é hora de jogar o chuchu ralado e, com uma espátula, revolver bem essa mistura, tampar por uns dois minutinhos em fogo baixo, depois deixar cozendo sem tampa, com uma pitada de sal e nova remexida geral. Assim que os fiapos de chuchu ficarem transparentes – o que é bem rápido! – está pronto. Bom demais, e não leva nem dez minutos.

Como vieram muitos chuchus na semana passada, fiz esse refogado de novo noutro dia, só que acrescentei quadrados grandes de tomate (sem semente) e de cebola e, ao juntar o refogado com o macarrão (um fusilli de massa integral), usei uma colher de sopa de ghee (manteiga clarificada, lembra?). Una pasta naturebba - delícia!

E aqui vai o chuchu assado

No liquidificador, nesta ordem:

• 1 chuchu grande (bem lavado e sem as partes espetadinhas da casca, e valem também os brotos, os talos, tudo o mais)
• 1 cebola média
• 1 colher de sopa bem cheia de farinha de trigo branca
• meio copo de leite (uso desnatado em pó)
• um pouco de sal
• noz moscada ralada (eu uso bastante, adoro)

bate-se um pouco

• se tiver cebolinha, mande ver (eu não tinha...)
• ½ colherinha de café de fermento em pó
• 2 ovos (de galinhas felizes!)

bate-se até ficar com aspecto homogêneo

• 4 tomates secos conservados em azeite

bate-se só um pouco, pra sobrarem pedacinhos do tomate seco, que tem um sabor bem marcante.

Numa forma refratária levemente untada:

• ponha cubinhos de queijo branco espalhados no fundo
• depois a massa (que fica mais pra líquida mesmo), distribuída suavemente, em movimentos de vai-e-vem.

Por cima, um pouco de queijo ralado (usei padrão com pouco sal, mas vale qualquer um, conforme o gosto do freguês).

20 minutos de forno médio (dou uma aumentada no finalzinho do processo, pra fazer casquinha, porque aqui em casa isso faz o maior sucesso).

Falando sério: reclamar do “festival de chuchu”?! Esse povo devia era cantar e dançar em regozijo, não é não?!

4 comentários:

  1. Fiquei com água na boca da receita número 2, chuchu assado. Parece um suflê de chuchu! Que delícia. Pena não ter nenhum chuchu na geladeira...

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  2. Ah, o chuchu é tão maltratado. Como tudo que veio a esse mundo disfarçado de leveza, não é mesmo?
    Concordo inteiramente com o cuidado que devemos ter com esses praguejamentos desnecessários. Eu que já fui de praguejar, e como!, hoje, estou mais para entoar salmos: salmejar. rsrsrs
    E viva o Festival do Chuchu. Chuchu beleza!

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  3. Acabo de ganhar da minha faxineira uma sacola
    com tanto chuchu que me pareceu um presente de grego. Primeiro porque só eu como chuchu, meu
    marido não gosta. Segundo porque eu acho sem sabor, como por obrigação, por ser um alimento saudável. Daí, pensei que deveriam fazer um concurso de receitas de chuchu, para ver se alguma faria o milagre de deixá-lo sem aquele gosto "de nada". Encontrei suas receitas - coincidência? Vou experimentá-las, neste festival de chuchu!
    Lívia.

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  4. "... porque é preciso ser assim assado!..."

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