A primeira versão deste post chamou-se “com a sogra na cozinha”, mas um amigo logo fez a piada... É que “sogra”, conforme o default da cultura, vai logo colando com “megera” e variantes, evoca certas letras jocosas (não raro grosseiras) do fast-pagode, por exemplo... Mas o caso é que minha sogra, em seus oitentinha já sem dor (passou muito aperto nos últimos anos!) e cheia de marotices, perde às vezes a memória de um jeito sem muita lógica, pra umas coisas e não outras, sempre variáveis esse “umas” e esse “outras”, e a gente não cansa de se surpreender, porque realmente não dá pra saber onde vai falhar. Ainda bem que o espírito da família é rir e tocar adiante. E, digo abertamente, tem hora que é muito engraçado mesmo. Não faria sentido a gente não rir assim, divertidamente.
A contraparte disso é que cada vez mais ela aprecia lembrar lá longe, de tempos outros, às vezes reinventados – como costumam ser as memórias de todos nós, diga-se. Até uns dois ou três anos atrás ela escrevia, e publicou crônicas ótimas no acervo do Museu da Pessoa, contando pequenos episódios de um outrora lírico toda vida.
Pois essa grande figura passa umas temporadas conosco. Sempre em torno da mesa, ajudando nalguma tarefa ou “dando ordens”, como ela diz (quando ensina alguma receita), ou comendo mesmo, que ela é boa de garfo que só! E de uma sinceridade comovente, gosta ou não gosta na lata, e se dispõe a debater longamente os gostos e seus efeitos na vida. É uma mama italiana, conversa melhor aí, na cozinha, nos calores do forno, na lida com as massas, picando, temperando, trocando dicas – e falando numa altura e numa animação, que quem vai chegando da rua pensa logo que é reunião de umas três ou quatro pessoas. Italianos na cozinha são assim – valem por muitos.
Vai daí que algumas batatas pediam destino, ela cogitou fazer seu famosíssimo nhoque, mas por trabalhoso que é e por toda a assessoria de que ia precisar, desistiu e, então, depois de um primeiro cozimento, as batatas ficaram lá, sem rumo – e ela saiu, distraída, a tomar banho, procurar os óculos... Enfim, despregou-se da tarefa do almoço sem muita notícia. Quando dei por mim, eram horas de fazer alguma coisa. Num vapt-vupt, fiz:
batatas assadas com ricota caseira
- eram umas dez batatas médias cozidas (não muito) e picadas em quatro partes;
- num pote, reguei-as generosamente com azeite, depois misturei com duas colheres de sopa rasas de mostarda tipo dijon (não apimentada);
- liguei o forno pra ele ir aquecendo (à temperatura média), forrei um fundo de travessa com finas rodelas de cebola e grãos de milho (sim, há que ter uma certa perseverança pra arrancar os grãos do milho cozido... mas vale a pena!), reguei-os com azeite;
- então, piquei um alho poró inteiro em pedacinhos bem pequenos, e misturei no pote da batata – o aroma já estava divino, faltavam só uma certa liga e uma certa crocância...
- liga: encontrei, num fundo de prateleira, gelada e solitária, uma ricota que tinha feito na semana passada, temperei-a com um pouco de azeite e pimenta do reino, mais um tico de gengibre em pó, amassei bem, bem, bem, e misturei com as batatas;
- a crocância: ralei queijos (tinha 4 tipos na geladeira e o que fica mais gostoso é: os queijos mais leves ralados em buraquinhos maiores, os mais amarelos a gente rala nos buraquinhos menores), misturei-os às batatas, deixando só um pouco de parmesão à parte, pra cobertura.
- forno alto uns 15 ou 20 minutos.
molho de tomate com alho poró
- eram oito tomates tipo italiano bem madurinhos (bons pra molho porque têm casquinha bem fina e quase nenhuma semente), refoguei duas cebolas pequenas numa caçarola de vidro (boa pra curtir e reduzir molhos), e fui pondo os tomates, sem as sementes, aos pedaços. Ficaram ali uns 10 minutos, em fogo baixo, depois que acrescentei um quarto de copo americano de água;
- acrescentei, depois, dois dentes de alho, pimenta do reino (pouquinha) e gengibre em pó (pouquinho) – como realçadores do sabor do tomate mesmo;
- mexi, daí bati bem no liquidificador com uns pedaços do alho poró que tinham sobrado da função com as batatas, e voltei com o molho pra caçarolinha, onde ele ficou em fogo baixo, destampado, apurando até que as batatas saíssem do forno;
- pouco antes de servir, joguei nele umas quantas folhinhas de manjericão (que é muito volátil e deve entrar nas receitas já pelo final, pra gente não perder justo o melhor dele), e também o sal (que também deve chegar no final da história).
Esse tomate não é muito ácido, por isso não ponho aquela famosa pitada de açúcar – que nem sei se é mito...
O molho, claro, é opcional. Mas por cima da batata que assamos, nossa, fica bem bem bom! E esse molho vai servir pra polenta que eles planejam fazer na quinta-feira. Em todo caso, se sobra, pode aguardar congelado bem uns 3 ou 4 meses, numa boa, não perde nada do sabor nem da textura, basta uma esquentadinha.
salada de folhas e nozes
- alface lisa rasgada com a mão, rúcula sem cabinho, majericão, na proporção 5/3/1, digamos (a alface é que deve reinar, se não, fica uma salada muito forte e a ideia é comer muito dela, fartamente...);
- nozes estraçalhadas com a mão;
- queijo branco em cubinhos mínimos;
- azeite
O molho de tomate, que fica assim de um alaranjado intenso, derramado sobre essa salada ficou parecendo prato de restauranteur. Juro. É um molho que vai bem quente e também em pratos frios.
A sobremesa foram uvas dulcíssimas que chegaram ainda hoje de um assentamento aqui perto. Sobremesa refrescante, digestiva, delícia pura.
Agora é recolher a roupa que andou quarando no sol.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Lu,
ResponderExcluirfiquei com água na boca...
Vou fazer essas batatas ao forno.
Ah, vou...
bjs