terça-feira, 26 de janeiro de 2010

pesto de rúcula e agrião




Por aqui, não para de chover. Não para. E já nem precisa mais de vendavais como o de 8 de dezembro pra obstruir o trânsito, estragar casas, desalojar pessoas, disseminar doenças, matar gente, bicho, planta... Tudo indo literalmente água abaixo...
E acho incrível como tem gente que não se solidariza. Como consegue?! Simples assim: se um gato aparece faminto, desesperado, pedindo pra ficar, você não deixa? Não arruma casa pra ele, se não for a sua? Não dá de comer? Não procura uma entidade? Não é só de um suposto gato que estou falando, falo da desfaçatez que é as pessoas acharem que, diante do pedido de ajuda ou partilha, bastará dizer que não querem. Acredito que o que vem pra nós vem, é nosso; podemos dar mil voltas, fazer cara de paisagem, desconversar, evitar, não olhar, o que seja, vamos dar com aquilo que é nosso ali, numa outra curva, numa janela improvável, numa insuspeitada manhã de sol. No fim das contas, acho que dá mais trabalho, emocionalmente falando, tentar dizer não ao que nos toca. Agora ou daqui meia hora, se é nosso, tocará.
Essa conversa toda é porque estou mesmo injuriada com muitos de meus vizinhos, que não querem nem conversar sobre uma possível cotização pra gente cuidar do mato alto que já lá vai na praça, com consequências cada vez mais complicadas pra todos que moram aqui. Todos. E, diante disso, fico indignada, perplexa: como é que pode uma abordagem amigável logo ser respondida num solavanco definitivo - “isso não me importa”?
Pois é, gastei um tempo hoje com isso, tinha conversado com uma vizinha, tratamos a possibilidade do serviço com um jardineiro do bairro, escrevemos uma cartinha e lá fui eu pôr em todas as caixas de correio: 46! Claro que acabei encontrando no caminho gente de cara boa, que acolhe a proposta ou pondera sobre o dever da prefeitura (estamos n’água nesse quesito!) e entende que é fundamental  o cuidado com o que é público, coletivo, diz respeito a todos os que moramos aqui e aos que frequentam a praça (ou frequentavam, porque o mato alto faz isto: esvazia o lugar). E é porque há dessas pessoas que a vida continua, se não... Eu me lembrei de um filme lindo, que fala tão bem dessa singela fraternidade – que julgo básica, basiquíssima. Em português (o filme é holandês), chama-se A excêntrica família de Antonia.
Enfim, depois desses encontros e desencontros, restava dar conta do almoço com o horário apertado e, algo abalada, sem muita vontade de me dar à cozinha – embora quisesse estar nela, lugar querido que é. Então, vi na geladeira que era hora de dar cabo daquelas folhinhas todas do fim de semana. Ora, só um pesto-rápido cabia aí.
Pus uma água pro “macarrão” de farinha de arroz – já falei dele antes, e também do de farinha de milho, o de sarraceno, o de farro (que é bom pros diabéticos)... há uma infinidade de farinhas com as quais se fazem penne, fusili e outros modelos de pasta. São uma forma muito prática de fazer macarrão (que é sempre pá-pum) sem se entupir de farinha de trigo refinada (que é uma delícia, mas como base alimentar pode ser uma encrenca, né?).
Aí pus no liquidificador toda a rúcula que sobrou do dia do creme de beterraba, também o agrião e umas folhinhas de manjericão – elas já estavam ficando feias pra servir como frescas, mas ainda estavam bem comíveis. Com um fundinho de água, só pra ajudar o trabalho do liquidificador, bati bem.
Acrescentei meia cebola média, dois dentes de alho refogados na manteiga (uns dois dedos de manteiga), uma pitada de pimenta do reino, uma pitada de gengibre em pó, um fio generoso de azeite extra-virgem, bati de novo, bastante.
Sobre o uso da manteiga, sugiro um fio bem curto de óleo pela frigideira antes de derretê-la, assim ela não “queima”.
Daí, reguei a mesma frigideira com um bom óleo pra cozinhar, piquei bem miúda uma cebola que pus pra refogar nesse óleo, piquei em pedaços maiores 5 tomates sem semente, uma pitada de pimenta do reino, uma pitada de gengibre em pó, azeitonas pretas em metades, um tico de sal no final.
Essa é uma variação do molho pomodoro, que é tomate fresco cozido um pouco só, na sua própria água.

Enquanto o pesto e o pomodoro curtiam um pouco, escorri o macarrão, voltei com ele pra panela, pus um fio de azeite e parmesão ralado no buraquinho o mais fino possível. Misturei um pouco pra pasta pegar o gosto desses ingredientes (não pus sal nela porque ia pôr esse parmesão – que é dos bons!).

Na hora de servir: num prato fundo, ponha a pasta, derrame sobre ela o pesto (ele vai escorrer pro fundo, fica um creme mais pra líquido) e, por cima, ponha o pomodoro. Na mesa, ofereça queijos ralados. Só pra lembrar: rale sempre os mais clarinhos nos buracos maiores e os mais amarelos nos buracos menores – isso faz a maior diferença pro paladar, pode crer!



Ficou um almocinho confortante até... Decerto há muito mais irmãos pelo mundo do que nego querendo fazer de conta que não é com ele... O problema é que estes às vezes fazem um estrago danado, dão uma canseira enorme na gente...  La vie, quoi! E vamos curar esse amargor: a sobremesa foi pudim de manga e frutas da estação, suculentas frutas da estação.

De quebra, uma leitura inspiradora: David Harvey falando sobre o poder da mudança nas práticas nossas de cada dia.


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