quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

secar ervas


Ontem uma amiga querida, grande frequentadora da nossa cozinha, me perguntava como exatamente eu secava as ervas. Bem, sei que há técnicas variadas para ervas variadas, e numa navegaçãozinha rápida achei um monte de dicas na rede. Não sou cozinheira, bem entendido, sou só alguém que tem uma vida corrida e difícil (embora farta e confortável, diante do que há por aí...) e decidi há algum tempo que isso não podia significar que eu me apartaria da cozinha, da comida, dos pequenos ciclos do dia a dia, que têm a ver com abastecer a casa, criar cardápios, lavar a louça, etc.

Minha geração aprendeu a condenar ou a nem olhar pra cozinha, nem querer saber como funciona. Como se fosse possível abrir mão do coração da casa, que bate, mesmo que alguns não percebam. Aliás, esse desconhecimento da alquimia fundamental que há na cozinha foi a principal razão da mágoa das mulheres que acharam mesmo que suas filhas deviam se comportar assim, e deram a maior força pra que elas ficassem distantes do fogão, crentes na autonomia eterna dessa pulsação.

Bom, mas isso não é um sentenciamento, não estou brava com ninguém: minha mãe, minha madrinha e minha tia são preciosidades na minha vida, me ensinaram muito, muito!, sem nem se dar conta às vezes. Esse foi o curso da história, e dá pra entender direitinho o que fizeram, o que disseram, com o que se magoaram... A sorte é que, na atual reviravolta de práticas, muito já mudou - tanto a ideia de que a cozinha é coisa de mulher (quando, na verdade, é coisa do feminino, algo bem diferente), quanto a ideia de que os descolados de plantão estão sempre ocupados demais pra saber se acabou o sal ou o mel (se a dona ou o dono de uma casa não sabem isso, alguém na casa sabe, alguém que cuida da casa sabe, ou não há uma casa propriamente, só um pouso).


Tudo isso pra dizer que seco minhas ervas só quando ganho uma quantidade que não consigo usar ou quando vem fartura na cesta do Sementes de Paz. Se não, prefiro usar frescas, até em receita que diz pra pôr desidratada. Mas, abençoados que somos, tem havido fartura de ervas por aqui, e essa amiga, que mora só, me dizia justamente que as quantidades à venda são sempre mais do que ela dá conta de consumir. Solução: pôr pra secar e ir usando.


Por isso é que eu acho que elas têm de secar à vista, pra gente não esquecer delas em cantinhos fechados, onde estarão prensadas entre papéis-manteiga brancos, etc. Então, penduro num barbante, de cabeça pra baixo, num lugar seco e sem sol direto. Acho até que fica bonito, além de perfumar ligeiramente o ambiente. Daí vou vendo, com o passar dos dias, que galhinhos já secaram, transfiro-os para cestinhas abertas que moram numa prateleira dedicada justamente a isso, e fica bem perto da cozinha, bem na altura dos olhos.


Antes de usar, vejo se estão limpinhas, às vezes passo num pano de prato recém-saído da gaveta. É preciso só ter certeza de que não mofaram - como tudo o mais tem mofado nestes meses de chuva sem parar... Nenhum segredo, né? Pois então, não chega a ser uma dica, é só uma partilha entre os que querem, sim, secar as ervas pra poder usá-las no dia a dia.

E por falar em partilha, ofereço uma coisa que achei linda-linda, uma pequena matéria do ciclo de homenagens ao poeta João Cabral de Melo Neto que o Jornal diário da TV Brasil andou fazendo: é uma leitura do poema "Tecendo a Manhã".

A matéria é como o poema: simples e funda, como gostaria o poeta, acho; ela é, por isso, útil. Raro um jornalismo televisivo dar conta disso hoje em dia, né? Eles deram, veja só.

Um comentário:

  1. Luciana!!!!
    Caramba que site legar.
    Adorei o jeito que você escolheu de fazer.
    Sem aquelas receitas tradicionais.
    Um grande abraço e continue dando- nos alegria.

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