domingo, 31 de janeiro de 2010

abóbora cavucada


Ganhei uma abóbora, uma moranga no dizer de quem me deu o presente. E fiz uma coisa muito fácil, que muita gente faz, mas ninguém passa adiante como receita oficial. A cozinha tem disso, né? Muitas das práticas mais cotidianas não são registradas e partilhadas “oficialmente”.
Isso é interessante, porque permite ver que algumas práticas culinárias ou gastronômicas têm status de receita, outras de dica, outras de segredo, outras quase nunca são tematizadas, em geral tomadas por prosaicas, pressupostas. É o caso, acho, da abóbora cavucada.
Abóbora é um alimento muito difundido, tem pra todo lado, de tipos variados, é nutritiva e aquece o coração (quem não sabe o quanto uma bela sopa de abóbora ajuda a tirar do peito tristezinhas da vida?). Já vi essa abóbora cavucada ser feita em muitas casas, no dia a dia, às vezes pra acompanhar outros pratos, raramente em papel solo.
Eu fiz assim desta vez:
-       tirei uma boa tampa da abóbora (que foi lavadíssima, inclusive porque dá até pra comer a casca), tirei os carocinhos, etc., pus um pouco de pimenta branca ralada na hora, deixei quase 15 minutos no vapor.
Atenção aí: se ficar muito cozida nessa etapa, pode ficar mole demais depois do forno, então, é no máximo 15 minutos e tem que ficar vigiando, pra não perder o ponto.
-       passei pra uma travessa final, que vai ao forno; com um garfo, cavuquei o miolo e as paredes da abóbora, fazendo uma massinha, joguei no meio dela um tempero: 1. dois dentes de alho refogados na manteiga, junto com uma cebola média ralada, mexi bem; 2. um pouco de pimenta de cheiro, mexi; 3. uma colheirinha de café bem rasa de sal marinho, mexi bem de novo; 4. uns verdinhos (cebolinha, salsa – se tivesse, punha alho poró...) picados bem miudinhos, mexi bem, reguei com um bom azeite e forno.
Atenção aí: o forno estará pré-aquecido, bem quente mesmo. Liguei logo depois que tirei a abóbora do vapor.
-       15 minutos de forno, abre, remexe a massinha, cavuca mais um pouco as paredes da abóbora, corrige o sal e salpica com queijo ralado por cima – eu misturei um pouco de parmesão ralado bem fininho e mais do padrão, ralado um pouco mais grosso. Com queijo fresco também fica uma delícia, e mais leve um pouco.
-       mais 15 minutos de forno ou, como os fornos variam muito, até que seja possível espetar um garfo maciamente, quando os queijos já devem ter formado uma casquinha.
Isso aí com um arroz bem feitinho, nossa! Bom demais.
Fiz também uma salada de alface americana e lisa, com amêndoa triturada no processador, mais azeite.

Como disse, já vi muitas misturas diferentes – coentro, salsão, erva-doce, pimentas de todo tipo, croutons, outros legumes (tipo: sobrinhas de refeições anteriores) e até o arroz feito dentro da abóbora!

É gostoso ver isso acontecer em outras cozinhas, quando se está hospedado na casa de alguém, por exemplo, ou quando se chega na hora em que o almocinho do dia está sendo preparado. A abóbora cavucada é uma dessas iguarias que são tratadas como lugar-comum; paradoxalmente, é esse tratamento que faz dela uma iguaria: muita moda se inventa diante de uma abóbora.

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