Taí uma coisa que pouca gente usa aqui no Brasil e acho que por puro desconhecimento, porque já existe produção nativa há mais de dez anos, e os motivos pra adotar o arroz preto com frequência são muitos.
De saída, ele tem boa dose de proteína, muita fibra e antioxidantes (os tais compostos que combatem radicais livres, etc.). É muito saboroso, lembra a textura do arroz integral com vermelho – um pouco mais pra úmida do que o arroz parboilizado ou o branquíssimo, e mesmo o integral, que pode ficar bem sequinho, dependendo do modo de fazer, né?
Acho que o fato de o arroz ser preto (fica arroxeado no final do cozimento) é que espanta, talvez. É aquela história dos hábitos alimentares... Nossa cultura de séculos é a de um arroz assim, digamos, “quanto mais branco melhor” – ilusão, oh, que ilusão; puro apego à cultura do processamento, entendido como melhoramento. Já vimos aonde isso está nos levando, toda a problemática planetária, pra dizer o mínimo...
E, diante disso, muito se tem gritado sobre a importância de mudar práticas, aquelas miúdas decisões cotidianas que fazem a vida ter este ou aquele rumo, este ou aquele gosto, esta ou aquela contribuição pro todo. O símbolo disso no momento são as tais sacolinhas plásticas, essa desgraceira infiltrada em práticas tão variadas que, atônitos, não sabemos direito como mudar. Mas já sabemos o quanto é crucial que se mude. Logo.
Em todo caso, pensar só nas sacolinhas é pouco; é nada. Há muito mais a mudar, um sem-número dessas coisinhas de todo dia que, somadas a outras nem tão miúdas assim (como nosso voto político, por exemplo), vão dando um norte pra vida de todos nós. Na verdade, é preciso ter o espírito aberto e atento, não se trata de seguir uma cartilha de práticas impingida por uma ong X, por exemplo. A questão é o modo de ser, de estar no mundo, de se relacionar com o que está à volta, com quem está à volta.
Tudo isso porque acho que temos mil motivos pra incluir o tal do arroz preto no dia a dia, a despeito da cara feia que um e outro conservador possa fazer diante da tintura que surpreende. Acho que só espanta os que veem na brancura do arroz de sempre um sossego pra alma. Ledo engano.
Conta-se que há 4 mil anos, na China, só o imperador comia o arroz preto, iguaria destinada aos dirigentes espirituais de grandes povos, e por aí vai. Nos supermercados de hoje, há muito do arroz preto dito mediterrâneo, mas em boas casas de produtos naturais há do brasileiro, em caixinha ou a granel. É sempre melhor comprar comida que viajou menos, que passou por menos mãos e embalagens e estocagens...
Enfim, nutritivo até, o tal do arroz é de pôr no cardápio rotineiro. Embora, isso lá é verdade, ele faça um sucesso danado num jantarzinho pra amigos, acompanhando cambucis recheados ou algo assim. Hummm!
Hoje estou fazendo arroz preto com grãos de soja partida e farofa de aveia com tomates. Refeição substanciosa, saciante e bonita.
O arroz, faço de um jeito basiquinho: alho OU cebola refogados num fio de óleo de girassol, depois o arroz refogado um pouco junto, água, um ramo de salsinha OU um fiapo de alho poró OU de cebolinha, sal no fim do cozimento. No caso de pôr grãos de soja, acrescento-os logo depois da água. Também é gostoso misturar outro tipo de arroz (aquele tiquinho que sobrou de ontem ou anteontem) no fim do cozimento, depois do sal, quando já está quase na hora de desligar, sabe? Ele fica tingido, arroxeado como tudo o mais que se puser ali.
Quanto à farofa de aveia, numa frigideira, um fio de óleo quente recebe cebolas pequenas cortadas “em palito” (longitudinalmente) até que dourem, daí acrescentam-se um dente de alho esmagado, que frita um pouco, depois a aveia em flocos, que frita um pouco, depois os tomates em finos cortes longitudinais também, que também frita um pouco. É mais gostoso usar tomates que não estiverem muito maduros, pois sua função aí é dar um certo frescor ao prato.
E pronto!
Vou servir com rúcula regada de azeite e suco de umbu pra beber.
Luciana,
ResponderExcluirfaz pouco tempo que conheci o arroz preto na gôndola de um supermercado, fiquei um pouco surpresa, não sabia da existência dessa variedade. Já havia experimentado o arroz integral, o gohan, o parabolizado, mas o único que frequenta as panelas de casa é o velho agulhinha, por uma questão de comodidade mesmo. Tá certo que em dias de inspiração, mistura-se beterraba e o arroz fica cor de maravilha, em outros dias canela - um marronzinho delicioso. Ao visitar o seu blog me deu uma vontade enorme de cozinhar esse arroz preto, parece tão gostoso e de quebra fazer os acompanhamentos.
Oi, Luciana,
ResponderExcluirTrabalho com o nosso querido amigo Josafá e ele me fala tão bem de você e seu blog que resolvi visitá-lo e fiquei encantada com suas receitas, achei tudo de muito bom gosto e sensibilidade. Muito interessante o post sobre arroz preto, eu mesmo não o conhecia, mas a partir de sua receita vou procurar no Mercadão e vou tentar fazer, só não sei se vai ficar gostoso, mas depois eu volto para dizer...Abraços até mais!!!