segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

truque de cenoura

Vou viajar a trabalho, então tenho evitado abastecer a casa, ou seja, tenho tentado funcionar com o que tem, com o que dá. Exercício maravilhoso de criatividade! E de simplicidade também – o que vai muito bem, diga-se, nestes tempos em que o excesso (de tudo) é o que nos mata, ou adoece.

Pois eu abri a gaveta da geladeira hoje e encontrei um monte de cenourinhas, daquelas pequeninas, organicíssimas, suculentas (leia-se gostosas e cheias de suco), mas começando a querer murchar... Vieram na cesta da Sementes de Paz da semana passada, e até hoje eu não lhes tinha dado destino.
Havia, ainda, uma couve-flor, só 3 ovos, um pedaço de queijo padrão bem macio, maturado que só. De fresco, nada além de tomate e salsinha (linda, aliás; firme e forte como ninguém mais por ali - tem a ver com o modo de lavar, deixar secar e guardar na geladeira dentro de um pote bom, que não a machuque). Então era isso.

Fiz um arroz integral com vermelho – que fica ligeiramente umedecido, faz parte dos arrozes que confortam (há os que desafiam, tipo arroz preto, selvagem, arbóreo...). No tempero: cebola frita em metades num fio de óleo, salsinha, um tico de sal no final do cozimento (sempre que possível, o sal deve ir no final do processo: usa-se menos quantidade, porque nada se perde “do gosto” dele, e se preserva o iodo, tão importante pra nós).

A couve-flor cozida no vapor virou salada com pedaços de tomate: arvorezinhas e triângulos de tomate – hoje deixei as sementes. E fiz um molho di-vi-no: no liquidificador, bati um copinho de iogurte natural e todas as folhinhas aproveitáveis do maço de manjericão que veio na semana passada (já mais pra lá do que pra cá, nesta altura), azeite extra-virgem, pitada de sal. Pode guardar o que sobrar, porque fica bom com pão (basta acrescentar mais azeite, fica um antepasto ótimo com pães brancos, biscuits, etc.), no meio de sanduíches de queijo, sobre massas secas... Bom mesmo! O truque é deixar bater bastante, espumar, e geladeira nele até a hora de servir.

Finalmente, as cenouras, razão de tudo isso. Tirei raízes e folhas, limpei mais uma vez, aproveitando ao máximo a casquinha (antes de ir pra geladeira, elas foram bem lavadas, ficaram de molho no hipoclorito de sódio e tudo, embora não tenham sido cortadas – porque assim duram mais), joguei tudo no liquidificador, um punhado bom de salsinha, uma colher de café de sal, meio copo de leite (uso desnatado, em pó), os 3 ovos que havia, uma cebola média, 2 dentes de alho refogados na manteiga, daquele jeitinho de que já falei, um pouco de noz-moscada ralada na hora, um fio de azeite.

Enquanto isso bate bem-bem-bem, rala-se o queijo. Do queijo ralado, um punhadinho pequeno foi pro liquidificador, o mais serviu de cobertura. Bati quase um minuto, acho.

Numa forma refratária, derramei o denso creme laranja-esverdeado; por cima dele, distribuí o tal do queijo.

20 minutos de forno à temperatura média pra alta e pronto: eis uma “tortinha” de cenouras, todas elas salvas da gaveta bem na hora!

Dois comentários reveladores aconteceram nesse almoço feito em 50 minutos: um carnívoro de plantão que baixou por aqui hoje ficou dizendo “quem bom, que bom, nem precisa de mais nada” (um pouco com aquela cara típica de quem só come carne e nem imagina como é não comer); o outro vinha de quem tinha passado mal ontem, com exageros gastronômicos, espumantes variados e que-tais, e dizia “não conseguia comer nada, tava embrulhado... mas isso aqui tá muito gostoso, leve, recompõe”.

Gregos e troianos estavam assim na minha cozinha hoje, próximos, deleitosos, convergentes. E lá fora chovia, ainda agora chove... chove de fazer dó.

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