domingo, 28 de março de 2010

professores em São Paulo


Por que impedir com barras de cimento a marcha dos professores, por que atirar balas de borracha e gás pimenta contra eles, por que descer o cacetete nas costas de homens e mulheres que ensinam nas escolas sucateadíssimas do estado de São Paulo? Que horrores esses professores teriam feito que foi impedido com tanta truculência? Não posso imaginar... e quem pode? Nestes tempos em que tanto se clama por liberdade de expressão e democracia... Palavras frequentes nos discursos dos que representam o governo de São Paulo...

























Hoje preciso deixar aqui um registro indignado, um lamento profundo, e a certeza de que a tirania de um poder público que se mantém pela força belicosa (e por muita manipulação midiática, além dos disfarces dos infiltrados...) não se sobrepõe à solidariedade humana. Fica aí uma pequena mostra do clima de horror e guerra instaurado pela hiperreação do governo do estado contra (contra, vejam só!) os professores - essa gente comum, esses trabalhadores de um sistema em falência, que vêm querendo  conversar a sério sobre um fato aterrador, que muito envergonha quem vive aqui: o mais rico estado da nação tem, entre outras mazelas incríveis, um dos piores índices de educação do país - há já bom tempo...

quinta-feira, 25 de março de 2010

banana com farofa de castanha-do-pará


Ah, a princípio, nada demais: bananas, que abundam e são o máximo; castanhas-do-pará, que felizmente também têm circulado muito, com uma organização cada vez maior dos trabalhadores castanheiros – o que faz a castanha chegar bem até nós, que estamos enfiados numa metrópole. Já ouviu as canções de trabalho das quebradeiras de coco
Muitos coletivos, de mulheres sobretudo, que descascam as castanhas-do-pará cantam enquanto trabalham; frequentemente eu tenho a sensação de ter comido uma castanha encantada! Daí logo penso: “que Deus abençoe quem a encantou!”
Bem, a receita:
·      antes de mais nada, deixe muitas ameixas secas descaroçadas mergulhadas em água de laranjeira, enquanto faz o resto;

·      corte em pedacinhos miúdos muitas bananas, quantas quiser e do tipo que quiser – algumas soltam mais água, outras são mais durinhas, não importa, vai ficar bom, com as diferenças de textura características de cada tipo de banana;

·      cubra o fundo de uma travessa com os pedacinhos, pode ser em camadas se forem muitas bananas;

·      regue tudo com um bom mel – eu gosto de usar silvestre pra fazer doce, mas de laranjeira vai bem também nesta receita;

·      polvilhe um pouco (um pouco!) de canela – se for ralada na hora, faz a maior diferença! É outro aroma;

·      leve ao forno médio por 10 minutos no máximo;

·      enquanto isso, bote um monte de castanha-do-pará pra moer num processador, ou num liquidificador que aguente o tranco;

·      no finzinho da moagem, acrescente uma pitada de sal marinho e acabe de moer – não precisa ser hiperfino, não;

·      tire da geladeira os dois ou três potinhos de iogurte natural (tenho usado o de consistência firme, mas o caseiro é que é mesmo campeão!), rale um pouco da canela e acrescente um generoso fio de mel, misture gentilmente, pra preservar a textura do iogurte, guarde a mistura na geladeira;

·      tire a banana do forno e logo acrescente as ameixas embebidas na água de laranjeira, misturando tudo com vagar;

·      deixe esfriar com um paninho fino por cima, pra evitar bichinhos, etc.;

·      dê uma suave amassadinha geral nas bananas e ameixas, com um garfo, sem força, só pra provocar uma ligazinha;

·      jogue um pouco da farofa de castanha-do-pará por cima de toda essa mistura;

·      jogue, em seguida, o iogurte, fazendo uma nova camada por cima de tudo;

·      finalize com o resto da farofa de castanha sobre o iogurte;

·      ponha pra gelar pelo menos 1h antes de servir.
Desta vez não deu tempo nem de tirar a foto: comeram tudo na hora!
É um doce pouco doce, muito nutritivo, excelente para repor energias depois de práticas esportivas ou da labuta que envolve esforço físico. E podemos variar usando outras castanhas, uma mistura delas...

Em todo caso, se o espírito for outro, dá pra derreter uma barra de chocolate meio-amargo e jogar por cima do iogurte, depois da 1 hora de geladeira, e deixar um pouco de farofa de castanha pra pôr por cima dessa nova camada. 

Ó, sério: é bom demais!

segunda-feira, 22 de março de 2010

macaxeira do Dedé

aipim, maduba, mandioca... do Dedé.

Hoje um amigo que há muito muito tempo não via apareceu pra almoçar. Quer dizer, ele apareceu e eu logo convidei pra almoçar. Isso é importante, porque significa que, antes de eu saber se tinha coisinhas gostosas na casa, já fui logo convidando – era saudade e vontade de papear.
Então, com ele já instalado ali na cozinha, cafezinho na xícara e tudo o mais, vi que tinha… mandioca!
Tinha também um feijãozinho carioca de outro dia (era só esquentar), fiz um arroz integral com vermelho, que é aquele que fica mais pra úmido, ótimo pra temperar com alho poró ou folha de louro ou outra folha mais forte, porque ele pega superbem os temperos.
Tinha, ainda, dois tipos de alface, semente de girassol e manjericão fresco – fiz a salada picando tudo isso junto.
Achei, no armário dos secos, grãos de soja partidos, que cozinhei numa frigideira com aceto balsâmico e um tico de água, depois de refogar os grãos (duros mesmo) no alho.

E a mandioca tinha que ser o principal disso tudo. Mas também não havia lá muito tempo… Fiz, então, uma coisa muito muito simples, mas meu amigo gostou tanto, que achei de fazer este post: macaxeira do Dedé.
Ei-la:
·      ponha a mandioca descascada pra cozinhar no vapor – ela fica mais pra durinha; não crua, só durinha, mas bem cozida  (se for cozinhar na água, lembre-se de que tudo o que nasce embaixo da terra deve ser cozido desde a água fria, diferente do que nasce acima da terra, que só entra na água já fervendo, né?);
·      enquanto isso, refogue, num fio de óleo de arroz, uma cebola picada em quadradinhos bem miúdos;
·      quando a mandioca já estiver no ponto (um garfo a atravessa sem que ela desmanche), corte-a em pedaços irregulares (fica mais bonito) e jogue na frigideira onde está a cebola, em fogo médio pra alto (vai ficar só um pouco ali, o tempo de dar uma “chamuscada” em alguns cantinhos);
·      à parte, rale no furo mais fininho do ralador um bom naco de gengibre;
·      jogue o gengibre aos poucos na frigideira, revolvendo os pedaços de mandioca;
·      e então faça o mesmo com uma pitada de sal.
Sirva com azeite e, se tiver, alguma pastinha (eu tinha um patê de tofu com azeitona, bem suave).
É muito simples, né? E é mesmo muito boa!
Detalhe: sobrando, vai ficar melhor no dia seguinte, é só pôr na frigideira de novo, aspergir generosamente uma água filtrada, sem óleo nem nada, e ela estará mais curtidinha. Misturada com cubos de tomate fica finíssima.
Servi o almoço com um bom suco de uva. De sobremesa: creme de banana com farofa de castanha-do-pará (este eu conto outro dia, ele é simplinho toda vida também.)

sexta-feira, 19 de março de 2010

as mulheres e o momento


Eu sei que não se deixa um blog assim, dez dias sem post… Um blog pede vivacidade. Mas isso há de ser diferente de velocidade – o que resultaria em postar por postar, só pra cumprir uma praxe, e aí, num mundo de overdoses, eu estaria contribuindo para aquilo que mais lamento viver: esse excesso em que mergulhamos, essa imensa confusão de mensagens que lembra o “Fim do mundo do fim”, de Julio Cortázar, aquele pequeno conto que está no livro Histórias de cronópios e famas (pra quem não conhece, achei-o transcrito aqui).

…Estive envolvida numa longa e bela peleja estes dias, quando muitas mulheres bacanas se puseram na disputa por uma vaga (num concurso) e, junto com elas, em igualdade de condições, homens bacanas também. O que, convenhamos, ainda é raro…

Mas outras pelejas estão se dando. Sempre estão, que a vida é um pelejar sem fim.

As mulheres bem o sabem, têm uma história de lutas que lhes é muito peculiar, porque é de lutas intensas pela sua condição de mulher, lutas que nos são impostas nestes tempos de ruína da organização patriarcal; lutas por seus filhos, homens e mulheres pelos quais elas são capazes de muita coisa; lutas por seus companheiros de vida, maridos, amigos, irmãos… As mulheres, pela grandeza histórica que tiveram de se construir, estão cada vez mais atentas à força de sua contribuição neste momento: para um mundo novo, novas deverão ser as relações, mais solidárias, mais horizontais, mais voltadas à receptividade, dando acolhida às experiências emocionais que são parte fundamental das relações humanas, do trato entre os viventes, da política enfim.

Assim, desta cozinha hoje só sai isto: um pensar a sério sobre o papel das mulheres neste período que vivemos. Não como um poder que quer sobrepujar os homens, massacrá-los, espezinhá-los, vencê-los… nada disso! Seria continuar o mesmo jogo de poderes que herdamos, apenas tentando inverter papéis, mas vitimando do mesmo modo, despotencializando do mesmo modo… O que há de bacana agora é as mulheres, no seu imenso desejo de “andar junto”, congregarem forças, aglutinarem diferenças, criarem ocasião para o encontro de muitos, de todos, pelo menos de todos aqueles que quiserem se achegar, sentar à mesa, dizerem a quê vêm.


















A foto acima é do boletim Carta Maior, vem de notícias sobre as bravas mulheres que terminaram sua caminhada ontem, na cidade de São Paulo. Símbolo da potência desse feminino que pode, sim, mudar um monte de coisas, elas fizeram, em cada um de seus gestos, ao longo de dez infinitos dias, o registro dessa luta maior que é de todas nós, de todos nós; é certamente a luta dos que levam no coração a boa vontade.

terça-feira, 9 de março de 2010

limão no tacho


Claro que a receita que vou contar não foi feita no tacho – quem me dera! Pra cozinhar no cobre, no latão, etc., eu tinha que ter outro fogão, outra cozinha e talvez outro tempo, não sei... Estou me lembrando muito hoje de Dona Maria do Rosário e Dona Maria Só (chamavam-na assim porque as irmãs todas eram Maria disso ou daquilo, ela não, ela nada).

Ambas cozinhavam só no tacho, nos tachos. Eram muitos, de diferentes tamanhos, e elas areavam, areavam... Eu me lembro deles todos distribuídos em degraus diferentes daquele pedaço de cimento do “doceiro”,  que era um cantinho de quintal bem escondidinho, lá no fundo do imenso pomar, onde um fogão a lenha ardia noite e dia e, de segunda a sábado, as Donas Marias vinham fazer doce. Doce das frutas da época, coisas com leite e manteiga, farinhas variadas, ovos... doces de fazenda.
Isso era já anos 1970, numa casa grande (e outrora rica) que eu frequentava nas férias, e que tinha lá as Marias doceiras, a fazer doces todo dia. Anos a fio, décadas, sempre as duas a conversar, conversar, conversar, e toca a mexer nos tachos, sentar um pouco no banquinho de madeira espichado ao longo da parede... E tudo de novo. O dia todo, desde cedo.
Às vezes uma delas ia colher frutas ali no pomar, que tinha manga, mamão, jaboticaba e umas outras. Às vezes um carregador levava até elas outras frutas ou o leite, que vinha uma vez por semana, e ficava ali de prosa um pouco. Elas faziam café. Tinham um “bule pras visitas”. E tinha também a criançada, que vinha rapar o tacho. Que delícia! Mais nos fins de semana. No meio da petizada, tinha sempre umas duas ou três meninas que ficavam mais tempo, quietinhas, ouvindo a conversa das Marias, que não terminava nunca, e ia se fazendo, doce e lenta, como as misturas nos tachos.
Eu achava aquilo lindo, único, mágico. Aprendi muitas rezas e receitas ali. Aprendi também sobre a maldade dos homens... Dona Maria Só não tinha nem registro, como dizia. Quando morreu, foi enterrada ali, por pedido dela e também porque não havia papéis, nada que informasse quem era, de onde vinha, que tinha existência legal...
Eram duas mulheres com poucos dentes, mas de sorrisos largos e respiração cadenciada. Dona Maria do Rosário me disse uma vez que a vida dela era muito, muito triste (todo mundo sabia de algumas das suas tragédias familiares), e por isso ela tinha aceitado viver ali, fazendo doce, "porque doce dá alegria", dizia, pra ela e pra quem comesse. Ela falava isso com uma bondade tão desabrida que até me doía.
Pensando no dia internacional da mulher, quero lhes render homenagem: fiz uma das receitas que elas faziam amiúde - limão no tacho. Era um doce barato, das épocas em que outros ingredientes rareavam. Veja só:
-       4 limões suculentos
-       ½ kg de açúcar mascavo (elas falavam “do açúcar ruim”, porque era sobra)
-       60g de manteiga (se for usar ghee, um pouco mais: 80g talvez)
-       3 ovos (de galinhas felizes, claro)
-       3 florzinhas de cravo (só!)
Em vez de tacho, uso uma caçarolinha de vidro, que também retém bastante o calor e, em fogo baixo, faz um efeito que lembra, de certo modo, o tacho sobre a lenha.
Raspe os limões e misture essa raspa com o suco deles espremidos (não bata no liquidificador com bagaço, fica muito amargo e também altera a liga); acrescente o açúcar, mexa bem, já em fogo baixo; acrescente a manteiga, os três cravinhos e, quando essa mistura começar a ferver, bote os três ovos pra bater (usei batedeira).
Sim, as Marias faziam tudo isso no muque! Inclusive a própria manteiga!
Por cerca de 10 minutos os ovos vão bater (em velocidade mínima) e, no fogo, com uma boa colher de pau, vai-se mexendo em círculos, sem pressa, a espuma do açúcar que sobe, perfumando a casa toda de limão.
Dez minutos passados, acrescente os ovos batidos à mistura que está lá, sempre em fogo baixo, e mexa suavemente, pra eles irem sendo incorporados, aos poucos.
Isso vai acontecer por uns 40 minutos, até engrossar. Esse tempo depende do tipo do açúcar, da umidade do dia, do seu espírito... você vai ficar por ali, mexendo, esperando. Hora ótima pra ler alguma coisa, dar telefonemas, fazer uns exercícios de alongamento... O lance é sempre mexer, não deixar grudar no fundo nem fazer muitas camadas na superfície – quanto mais homogêneo o aspecto, melhor.
Quando o caldo estiver bem viscoso, experimente jogar umas gotas numa superfície fria, como a pedra da pia, e veja se está um creme bem pastoso, denso.
Daí, é pôr na vasilha final, deixar esfriar e geladeira nele, pelo menos uma hora.
É um doce bem doce, de comer com queijo, no contraste doce/salgado. Ou numa colheirada no meio do dia... A criançada adora! Tem o gostinho da torta de limão clássica, mas textura e cor de bananada. 
Lembro que Dona Maria Só punha, às vezes, uns biscoitos de maizena esmigalhados no fundo da travessa, antes de verter a massa quente. Era bem bom. Eu pus umas raspinhas poucas por cima, só por charme.
Enfim, só posso desejar que Dona Maria do Rosário e Dona Maria Só estejam em paz e contentes. 
Deus sabe como lhes sou grata pelas tardes que me deixaram ficar ali, sentada no tal do banquinho.

sexta-feira, 5 de março de 2010

pra ouvir cozinhando


Sabadão é dia de arrumar algum armário, de lavar algum tapete, ou cortar alguma grama, de replantar alguma erva, cozinhar sem correria... E diz que por aqui será sábado de sol. Legal!

Então aproveito a ocasião e apresento Tula Pilar Ferreira, ia dizer uma figura rara, mas, na verdade, é uma figura comum, como todos os viventes que estão na vida de verdade, comum na acepção mais encantadora do termo, comum na sua verdade de ser.

Tula já foi cozinheira em casas ricas, foi também arrumadeira, vendedora de livros, da importantíssima revista Ocas e sempre, cada vez mais, uma leitora voraz e frequentadora de saraus. E acabou virando escritora. Não daquelas de gabinete. Tula é pulsante, faz parte do Brasil-brasileiro. Sua alegria contagia qualquer um. Arriscaria dizer que até mesmo quem está de má vontade...

Clique aqui e ouça uma entrevista que ela deu recentemente à rádio Unesp. Enquanto vai cozinhando (ou lavando o tapete, ou replantando a erva...), vai curtindo essa boa prosa. Quer pedida melhor pruma manhã de sábado?!

Bem, sempre se pode escolher outra coisa... talvez pegar um potinho daquele doce bom que foi feito na semana, deitar na rede e simplesmente saborear o que Tula nos diz.

quarta-feira, 3 de março de 2010

batata baroa da boa


Na cesta desta semana vieram muitas coisas deliciosas, como um maço de manjericão cheiroso toda vida, uma rúcula bonita que só, limões e bananas maduros (leia-se colhidos na hora certa e tendo viajado pouco) e batata baroa – mandioquinha para os paulistanos.
Ah, e veio abóbora (não a moranga), veio também almeirão... E suculentos caquis.

Os caquis, doces e molinhos, logo lavei e deixei bem oferecidos, bem à mão, na prateleira superior da geladeira: assim saem logo. Se ficarem na gaveta, o povo esquece que tem caqui; se ficarem na fruteira, as formigas atacam!

Ontem, ao lavar as folhas e preparar tudo isso pra estocagem e consumo, eu já ia pensando no que será que seria o almoço de hoje, mas, pra variar, o horário apertou um pouco (embora a gente queira resistir a essa consumição do tempo-que-nunca-dá-tempo, de vez em quando se é capturado; hoje eu fui...), então, deu-se um almoço basiquinho. Mas, falando sério: qualquer coisa com batata baroa dá certo. Impossível errar na mão, né?

A maratona foi assim: arroz pra cozer, feijão carioca descongelando em fogo baixo no molho de filetes de cebola e louro, tiras de pimentão vermelho na grelha, mandioquinha no vapor.

Enquanto isso, fui fazer a salada:

- folhas de almeirão picadas como couve: embrulhadas umas nas outras e cortadas perpendicularmente ao talo;
- folhas de rúcula rasgadinhas sem os cabos (que guardei pra fazer um pesto amanhã);
- folhas pequenas do manjericão (em pouca quantidade, só pra aromatizar);
- o pimentão vermelho, depois de grelhado, vai entrar em pedacinhos pequenos, quadradinhos;
- dois tomates médios, sem sementes, também em quadradinhos.

O molho da salada: um pouco de gengibre ralado, que ficou mergulhado no azeite extra-virgem um tempão, só misturei na salada bem na horinha de servir.

Assim, tudo o mais foi ficando pronto: arroz, feijão...

A batata baroa, ou mandioquinha (uns duzentos gramas, acho):

- foi cortada em quadrados ou rodelinhas, conforme o jeitão de cada tubérculo, com a casca mesmo – que estava lavadíssima e cozeu bem, virando uma película muito fina, que é nutritiva e bem saborosa (o que só acontece, acho, com baroas sem agrotóxico);

- daí, foi misturá-la primeiro numa colher de sobremesa rasa de ghee;

- depois acrescentei um pouco (uma colher de sopa) de mostarda dijon amarela (e sem sementes);

- e cebolinha em rodelitas;

- finalmente, um pouco (menos de ¼) de cebola ralada.

Importante: pra cebola crua ficar mais digestiva e não empestear o hálito, deixe-a mergulhada em água, de preferência gelada, por cerca de 20 min. Rale na tábua, misture com umas gotinhas de azeite, e só então misture na salada ou no legume, no que for.

Deixe a mistura numa travessa tampada até a hora de servir, esses temperos todos vão conversando lá dentro, e fica tudo muito mais gostosinho assim, depois de uma boa conversa. Como hoje está um ligeiro frio outonal por aqui, o cardápio combinou à beça!

Agora, finda a maratona, estou contemplativa na janela; em vez de tirar uma sonequinha, vou curtindo o gato da vizinha, o Nino, a passear pelos telhados.

segunda-feira, 1 de março de 2010

cuca quase pudim


Ai que delícia esta língua portuguesa falada no Brasil: cuca quase pudim soa como uma língua africana, mas também parece tupi guarani, parece também um verso de samba, ou um pedaço de parlenda... Cuca quase pudim!
Muito frequentemente, estrangeiros que não sabem nada nada de português comentam que nós brasileiros parecemos cantar, tão cadenciados que somos no jeito de produzir as vogais bem abertas (com as variações regionais, claro), as pausas (que dão notícias de como respiramos – o que desemboca em toda uma postura física na relação com o ar que entra e sai de nossos corpos)... Bem, isso de olhar de perto o funcionamento de uma língua vai longe, bem sabemos, porque uma língua não é só uma grafia (um código de representação), nem é só um léxico (um conjunto de palavras que compõem regiões de vocabulário mais ou menos definidas), nem é só um arranjo sintático (as relações que uma construção frasal pode estabelecer, além de a própria construção frasal ter lá suas mobilidades gramaticais, também estão ligadas a um tom, que é, digamos, um modo de dizer, portanto estão diretamente ligadas a uma série de crenças e valores...). Vai longe, né?
Por ora, com esse sambinha de fundo – cu-ca-qua-se-pu-dim –, sigo à receita, baseada na que me foi enviada por um amigo frequentador do simpático site de Carla Duclos: o Entre Panelas – receitas, gastronomia e nutrição.
Trata-se de uma cuca sem farinha, como a farofa do sábado.

a cuca
2 ou 3 bananas não muito grandes
1 xícara de aveia em flocos
½ xícara de óleo (uso de arroz ou de girassol)
Bate-se isso no liquidificador até formar uma massa homogênea, e acrescentam-se:
2 ovos (de galinhas felizes, claro!) 
Bate-se um pouco só, e acrescentam-se:

1 xícara de açúcar mascavo (faz diferença usar dos mais “terrosos”, adoçam menos)
½ xícara de castanha-do-pará
1 farta colher de chá de fermento em pó
Bate-se em velocidade menor do que a anterior, e acrescentam-se, de preferência enquanto a massa vai batendo:
-       um pouco de mel
-       um pouco de canela em pó
Isso tudo vai parar numa forma untada com óleo ou manteiga e castanha-do-pará esfarinhada. É o momento de incorporar uvas-passas claras, distribuídas pela massa suavemente com uma espátula.
Pra ficar com aquela carinha típica de cuca, pode-se pôr sobre a massa, já na forma, uma banana em tiras ou em pedaços e salpicar açúcar mascavo ou demerara, bem na horinha de ir ao forno.
Vai ficar mais ou menos 30 minutos em forno médio, sendo que ele estará preaquecido. 
Importante: como bem nos lembra a Carla Duclos em sua receita, não vai valer o teste do palito, porque é uma massa feita sobretudo de banana, ela ficará úmida mesmo depois de pronta. Então, na primeira vez que fizer, o tempo de forno será uma aposta. Pegue um bom livro ou uma revista ou um tricô e fique por perto, vigiando pra não queimar nem o fundo nem as bordas.

o pudim
Como não se usa farinha aí, ou se usa farinha de aveia, que é sempre meio flocadinha, essa receita permite trabalhar nas proporções entre ingredientes e, por exemplo, usar mais aveia e menos banana do que indicado acima, indo na direção dos bolos; ou usar menos aveia e mais banana, indo na direção dos pudins. Foi o que fiz anteontem: fica mais com cara de doce, pra uma sobremesa, por exemplo.
Usei 5 bananas pra uma xícara de aveia em flocos.
Aí, pra ficar com mais cara da família dos pudins, em vez das passas, usei ameixas descaroçadas, distribuídas no fundo da forma, antes de jogar a massa.
Acho que uma calda feita de mascavo e ameixas por cima ficaria o fino! Não fiz...
E também se pode usar outro tipo de castanha, ou vários tipos!
Em todo caso, do bolo ao pudim, essa cuca sem farinha combina muitíssimo com café da manhã ou café da tarde: alimenta sem pesar.
Pra criançada, é um repositor de energias e tanto. E também uma superboa pedida pra merenda. 

Pros adultos, bem, como tudo o mais, há que ter um certo cuidado com as quantidades ingeridas – é que fica tão gostosinha e digestiva essa cuca, que a gente vai indo, vai indo, de fatiazinha em fatiazinha... Mas ela tem lá suas calorias, né?  Não será mau evitar comer a cuca, assim como os pães em geral, depois do fim da tarde.
Cuca é comida do dia, é energética, revigorante, expansiva!