terça-feira, 29 de dezembro de 2009

"pudim" de manga pros dias quentes


Nossa, faz mais de uma semana que não dou conta de estar aqui, e não é porque a cozinha andou vazia, não. Houve nela muito trabalho por estes dias. Ô, se houve!

Mas é que também houve essa necessária distensão dos horários, dos menus, de tudo aquilo que é a vida ordinária – santa, diga-se. Acontece que a santidade deste momento do ano reside justamente em dar-se a outras experiências que não as de sempre, que não as automáticas, que não as cultivadas ao longo do ano. Acho que esse é o grande barato deste período: uma pequena subversão autorizada, coletiva, comungada.

Na minha família este ano o natal foi bonito, porque foi comedido, sem empanturramento de comida ou de presentes, tudo na medida, tudo expressando mais serenamente o bem-querer entre todos nós, tão diferentes que somos uns dos outros. Gostei.

(Ganhei uma batedeira sensacional. Bate uma clara em neve que só vendo!)

Pra ceia, este ano, fiz só um arroz parboilizado, mousse de manjericão, salada de folhas com nozes, “pudim” de manga, e minha mãe fez o tal do tender, um lombo com frutas, e comprou um pavê que é sempre sucesso na mesa dela.

Sobre a mousse de manjericão que levei pra lá, só acrescento à receita que já dei o seguinte: não há mais pacotinhos-padrão de agar-agar (gelatina), descobri outro dia; ele tem sido vendido a granel ou em pacotes grandes, então a proporção-base é a seguinte: 1 colher de sopa rasa para ½ litro de água.

Sobre a salada que fiz, nada demais, a montagem é que importa: alface americana rasgada com a mão em pedaços médios, alface lisa rasgada também, mas em pedaços menores do que os da alface americana, muitas folhas (sem os cabinhos) de agrião, duas fitas fartas de cebolinha cortada em pedaços bem fininhos, um bom cabo de alho poró também cortado fininho toda vida. Um fio de azeite, e mistura-se tudo bem misturado (os franceses dizem uma coisa que acho ótima: “fatiguer la salade” [é, isso mesmo, dar uma canseira nela, pra tudo ficar beeeem misturadinho]). Daí vêm as nozes esmagadas com as mãos (elas ficarão irregulares, é isso mesmo), o queijo branco ralado e umas poucas raspinhas de casca de limão e de gengibre (bem sutis). Mais um fio de azeite e remeximentos.

Crucial:

- a salada é sempre a última coisa a ser feita e sobretudo temperada, pra não ficar murcha e feiosa;
- essa “canseira” que se dá na salada é sempre com gestos delicados, a ideia é não macerar nenhuma folha, nunca;
- queijo branco ruim é sem gosto ou tem gosto de borracha velha, já os queijos brancos bons de verdade são muito saborosos – é destes que estou falando;


- secar as folhas (sobre um pano de prato ou naqueles secadores com manivela) é importante, pois elas não pegam tempero se estiverem molhadas – o que faz a maior diferença numa salada, né?


Sobre o tal do "pudim" de manga – que minha família praticamente não comeu, pois tinha o tal do pavê posando de gala... –, foi depois apreciado, de volta à minha cozinha, pelas visitas que vieram nestes dias quentes. Segredo nenhum: pra proporção-base de agar-agar (ver acima), quatro mangas maduras e cheirosas, mel (dos mais puros). Três das mangas descascadas e descaroçadas vão ao liquidificador com mel (não exagere, o mel é um ingrediente delicado, se passar do ponto, deixa a mistura meio ardida de tão doce), essa massa de manga será misturada à gelatina (um pouco com ela ainda bem quente), o resto depois que ela esfriar um tico, já vertido na fôrma final.

Daí, metade da quarta manga vai pro liquidificador com uma ou duas folhinhas frescas de hortelã, mais um tantinho de mel. Reserve (sem gelar!), pois essa será a cobertura depois que o "pudim" endurecer na geladeira – o que vai levar umas 3 horas, já sabemos...

A outra metade da quarta manga será cortada em quadrados irregulares distribuídos no fundo da fôrma (naquelas clássicas de pudim fica superbonito). Faça isso antes de verter toda a massa batida no liquidificador, claro.

Último toque: estando o “pudim” pronto, durinho e tal, faça uns furos com um hashi (aqueles pauzinhos japoneses) na parte de cima, indo quase até o fundo, e aí jogue o creme feito com a quarta manga. Não precisa pôr pra gelar antes de servir, não. Aliás, deixar fora da geladeira uns 15 minutos antes de servir é o ideal: fica só fresco, leve.

 
Agora vou pro terraço, conversar um pouquinho com as ervas.
Até!

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