sexta-feira, 28 de maio de 2010

antepasto de beringela


Sobre a beringela, todo mundo sabe que é preciso cozê-la bem pra que fique gostosinha e que há mil e uma maneiras de fazer isso. Esta aqui é bem simplinha. Simplinha mesmo! Pra fazer no vai-da-valsa, sem maiores trabalhos. 

Mas, se quiser incrementar, serve de base pras mais diversas caponatas – versões assadas ou fritas da beringela acompanhada de misturas enfeitadas (pimentões, azeitonas, cebola, alho... e há quem abuse de outras delícias menos evidentes, como uva passa, ameixa seca etc. – eu adoro!).

Esta aqui é pra fazer enquanto faz um almoço rápido ou outra coisa: não é nada exigente.

Corte a beringela (com casca) em pedaços – menores ou maiores conforme o gosto e o uso; pra comer com pão, assim beliscandinho, é melhor picar mais miúda, mas se for pra comer com arroz ou em sanduíches, maiorzinhas se ajeitam bem, ou em fita, que fica lindo.

Ao partir, já vá mergulhando os pedaços num recipiente com água, vinagre (uso um bom balsâmico) e sal marinho. Tudo isso a gosto, tem que experimentar. Em todo caso, o importante até aqui é que é preciso mergulhar logo todos os pedacinhos, pra eles não oxidarem.

Leve esse mesmo recipiente ao fogo baixo por 10 minutos, se for fazer caponata depois, usando o forno, ou por 20 minutos, se for fazer só o antepasto simplinho.

Observação: a relação entre ingredientes, tempo de cozimento e tamanho do corte da beringela depende dos fins. Por exemplo: se cortar muito miúda e cozinhar por 20 minutos, corre o risco de ela desmanchar...

Depois, dispense a água e, numa vasilha onde ela ficará curtindo por 2 dias, deposite os pedaços de beringela em camadas: primeiro uma, que vai ser regada com uma mistura de azeite (extra-virgem, de preferência), alho socado, pimenta branca (triturada na hora é mais saborosa) e bastante cheiro verde picadíssimo. Gosto de fazer essa mistura num pilão.

Daí, mais uma camada de pedacinhos de beringela regada a essa mistura; mais uma e outra, até quando houver beringela.

Tampe, e geladeira nela! 

Por 2 dias ela vai curtir. Aí, depois de você curtir esse suspense, verá: fica incrível de bom! É só dar uma remexida geral e deixar à temperatura ambiente pra, então, servir - com torradinhas, com pão italiano, com pães caseiros, no meio do pão de queijo, enrolada no pão de folha ou no pão sírio...

E é bom que se diga que chamei de antepasto o que dá pra usar como recheio, por exemplo. Outra coisa: se for fazer caponata, ela vai estar bem menos cozida, embora “transparente”, e aí basta esperar 1 dia ou umas 10 horas pra fazer a mistura com os outros ingredientes e levar ao forno.

Dura uns 15 dias na geladeira, sem susto. Se puser num vidro com tampa de rosca, dura até mais, e você pode ir usando de modos variados, conforme as visitas, as vontades, o humor.

Fiz esta enquanto preparava um sagu de maracujá, com os belos maracujás que meu irmão trouxe do seu quintal mágico. Vou dizer uma coisa do fundo do coração: maracujá de quintal do irmão não tem igual!

terça-feira, 25 de maio de 2010

medalhões de tofu


Essa é daquelas pra fazer quando estiver sobrando um tempinho e guardar na geladeira pra quando estiver faltando um tempinho. No fim das contas, a equação de sempre, que somos chamados a fazer a vida toda, pois o equilíbrio é dinâmico, supõe movimentos e transformações...

Ingredientes
(as derivações sempre acontecem, conforme o que se tem à mão)

  • 250 g tofu ou mais (com tofu defumado fica especialmente bom)
  • 100 g de tomate seco (feito em casa ou comprado)
  • 100 g mais ou menos de carocinhos soltos de milho cozido (nem sei se ainda existe milho em lata, se existir e você quiser mesmo usar, ponha num escorredor e deixe a água cair, pra sair aquele gosto característico)
  • uns 10 mL de azeite pra cozinhar (ou outro óleo de sua preferência)
  • sal marinho a gosto
  • temperinhos que gosta de usar – ervas, alho...


No liquidificador (ou processador)

Bata os grãos de milho cozido, o tomate seco, o azeite e os temperos. Não precisa bater muito, porque os pedacinhos de milho e de tomate dão uma rusticidade muito saborosa aos medalhões. Às vezes deixo até uns grãos de milho pra misturar inteiros, depois desta etapa.

Nessa altura, acenda o forno alto, pra ele aquecer bem.

Na tigela

Verta a pasta processada sobre o tofu numa tigela que permita amassar tudo com gestos rápidos e largos. Se estiver muito mole, você pode acrescentar tofu; se estiver muito seco, acrescente azeite.

Observação: usar o azeite em que o tomate seco fica submerso é superboa pedida – mas aí é preciso ir com calma nos outros temperos, pra eles não brigarem.

No forno

Você pode fazer bolinhos do tamanho e da forma que quiser; eu tenho umas forminhas achatadas, ficam uns medalhões magros e esparramados. Dá pra fazer numa forma grande também, mas aí diminui a área que vai formar casquinha – que é uma delícia!

15 a 25 minutos de forno bem alto, pra tostar mesmo.
Quem quiser grelhar, tem só que ir umedecendo e virando os medalhõezinhos na grelha. Fica ótimo. Ainda mais se aspergir água com um ramo de alecrim. Fica aquele aroma sutil, mas bem presente, sabe?

Na vida real

Deixe esfriar os medalhões, e embale um a um pra guardar na geladeira. Dura bem uns quinze dias ou mais.

Na hora da correria, é só passar os medalhões na frigideira, regando com um pouco de shoyu, por exemplo (o shoyu light é bem saboroso).

Ontem almocei sozinha. Derreti um pouco de requeijão caseiro sobre dois medalhões, fiz uma salada rapidinha e esquentei um arroz de anteontem. Acompanhou um copo de suco de uva integral, daqueles bem escuros mesmo, que aquecem o coração. 

Depois fui lagartear um pouco no solzinho de outono que há por aqui. 

Ah, dá pra fazer os medalhões com ricota também; a ricota simples misturada com um pouco da defumada fica bom demais!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

trouxinhas de couve


Hoje cheguei meio chateada, já no meio da tarde, tinha comido um doce na rua; estava com uma certa indisposição com tudo, com o mundo, abri a geladeira e constatei que tinha só um finzinho de arroz, uma sobra da salada de cenoura e iogurte... e muita couve por fazer (precisava fazer!).

Então decidi que ia fazer um almocinho bonito, gostoso, repositor.

Xeretei de novo a geladeira, agora com outra disposição, e vi que dava pra fazer trouxinhas de couve. Que alegria!

O que é preciso ter

sobras de arroz (de qualquer tipo)
sobras de algum legume refogado ou fins de saladinhas (pode ter folhas)
algo que dê liga (ricota com temperos, pastas de tofu, pestos densos)

Como fazer

Antes de mais nada, é preciso amolecer ligeiramente as folhas de couve, pra elas dobrarem sem rasgar. Pode ser na panela de cozimento a vapor (pouquinho, 2 minutinhos, se tanto) ou com água quente vertida sobre as folhas num escorredor.

Aí, sobre uma tábua, estenda uma folha, que será besuntada da pasta que tiver, por toda sua extensão, sem excessos. Eu usei uma de tofu defumado, alho e salsinha. Ricota, alho e cebolinha também é boa pedida. Vale a criatividade. Maionese não fica bom, porque tudo ainda vai cozer no vapor por meia hora.

Depois, coloque sobre a folha besuntada uma colheirada, conforme o tamanho da folha, da mistura de arroz e legumes ou saladas. Eu tinha um pouco de salada de cenoura ralada, alface americana, iogurte e azeite. Acrescentei umas gotas de pimenta de cheiro e salsinha fresca, picada bem miudinha. Também ralei um pouco de queijo branco.

Comece a fechar a trouxinha pelas laterais, fazendo um canudo, depois enrole pra dentro a pontinha mole e venha dobrando delicadamente na direção do talo.

Deposite uma a uma na panela de cozimento a vapor (ou numa cuscuzeira), ou ponha pra grelhar (neste caso, umedecendo, de tempos em tempos, as trouxinhas).

Em fogo baixíssimo, deixe cozer por meia hora, mais ou menos. Até a couve ficar macia. Por aqui, gostamos “al dente”, mas é possível deixar mais cozidinha, é só tomar cuidado pra não passar do ponto, pois a trouxinha pode estourar. O que é uma pena, porque fica tão bacaninha! Veja que carinha boa.

Na hora de servir, pode-se regar com azeite e, pra quem gosta, mais pimenta. Hummm, bom toda vida! 

O astral já era outro nesta altura, claro. E aí, aconteceu uma daquelas boas sortes: apareceu um amigo, o Dedé da macaxeira de outro dia, lembra?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

sagu de goiaba


Ainda sobre modos de dizer... cogitei intitular o post “goiaba ao sagu”, o que não daria exatamente na mesma, embora fosse a mesma receita. O doce que fiz ontem, que é daqueles que faziam as Marias do quintal, é barato, simples, pra ser feito em quantidade e comer a semana toda, uma coisa singela da vida de todo dia; é, pois, “sagu de goiaba”. Ei-lo:


ingredientes

  • 6 goiabas vermelhas médias (com casca, que dá um sabor especial ao doce!)
  • ½ xícara de açúcar mascavo
  • ½ xícara de sagu
  • ¼ xícara de cachaça (opcional, mas é sensacional)
  • ½ litro de água quente
  • ¼ xícara de mel (quanto mais puro melhor, quem não sabe?) 
  • noz-moscada  
  • 3 cravos-da-índia

como fazer

Antes de mais nada, mergulhe o sagu na cachaça por pelo menos meia hora. O ideal é deixar 1h. Se não quiser usar cachaça, pode ser suco de maçã, outra bebida alcoólica ou mesmo água – neste caso, se puser um tiquinho de água de rosas ou de flor de laranjeira, fica ótimo!

Enquanto isso, numa panela de fundo grosso (eu agora uso essa caçarolinha de barro, ótima pra doces e risotos), em fogo baixíssimo, deixe o açúcar derreter com as goiabas cortadas em pedaços. Mexa de vez em quando, gentilmente. Acrescente noz-moscada (ralada na hora), mais os três cravos, mexa.

Quando as goiabas começarem a se desfazer, desligue o fogo, deixe esfriar um pouco e bata num liquidificador ou num processador, volte o conteúdo pra mesma panela, fogo baixíssimo sempre, e acrescente um pouco da água mais o sagu curtido.

Mexa sempre, pra não agarrar no fundo. E vá acrescentando água aos poucos, até que o sagu esteja transparente.

Acrescente o mel no finzinho do processo. Experimente, ponha mais se quiser mais docinho... sempre aos poucos e mexendo. Com colher de pau é melhor.
Em 30 ou 40 minutos, o sagu cede. Aí é deixar esfriar e atacar! Pelo menos é o que a criançada faz.

Se quiser servir arranjadinho no prato, com uma bola de sorvete de creme e uma folhinha de hortelã, ficará lindo, além de gostoso.

Se deixar na geladeira, dura a semana toda; duas semanas até, numa boa.

Em todo caso, é bom avisar as crianças que o doce tem bolinhas macias e pedacinhos de semente, só pra evitar sustos. É superlúdico comer sagu, não é?

Ah, dá pra fazer com carambolas também. Mesmo esquema. Delícia!

sábado, 15 de maio de 2010

batata doce com whisky



Ia escrever batata doce com uísque, que está corretíssimo segundo a normatividade em vigor, mas como uma língua é muito mais do que uma norma geral – ô se é! –, achei que, no caso, soa mais apetitoso whisky

Isso faz pensar sobre as relações entre o que dizemos e o modo como dizemos... sobre o quanto as formas também produzem conteúdos... sobre como essa normatividade está sujeita ao tipo de texto, ao tipo de assunto, aos interlocutores envolvidos, enfim, sobre como muitos elementos não-linguísticos estão inextricavelmente ligados aos elementos linguísticos... e por aí vai.

De todo modo, com whisky ou uísque, essa batata é tudo de bom!
Estamos em época de batata doce, na região Nordeste já experimentei coisas incríveis, e há um restaurante bonitinho toda vida por aqui que faz uma salada bem gostosa, mas batata doce não é uma coisa que se vê toda hora e quase nunca ela aparece com ares de festejo maior – ela tem algo de caseiro, de quintal, de casa da vó... Mas ela tem muito mais: vitamina C, betacaroteno (que vira vitamina A, antioxidante), alto teor de vitamina E, a casca ajuda na digestão (e já ouvi dizer que ajuda a baixar o colesterol, a verificar). Meu ponto aqui é que há muitas razões pra comer batata doce com frequência, sobretudo porque é uma delícia!

Neste caso, vamos fazer um purê (que é um negócio que costuma fazer sucesso, ainda mais em época de friozinho, né?). E os temperinhos vão fazer tudo parecer chic, très chic!

ingredientes:

  • 6 batatas doces (eu tinha umas grandonas e outras pequeninas, pouco mais de ½ k)
  • uns galhinhos de salsinha fresca
  • um bom ramo de cebolinha (o meu era bem farto e tenro)
  • um pouco (menos de 100g) de queijo ralado (usei queijo padrão, se usar parmesão, ponha bem pouco e cuide do sal)
  • 1 colher de sopa de manteiga sem sal (usei ghee)
  • 1 colher de café de sal marinho
  • 1 potinho de iogurte natural (se for caseiro, fica mais saboroso)
  • 1 dose de whisky

modo de fazer

Cozinhei as batatas (com casca, lavadíssimas) no vapor até o garfo entrar sem resistência na mais gordinha delas.

Enquanto elas estavam lá, juntei no liquidificador todos os outros ingredientes menos o whisky, que é o toque final. Bati bem, até obter uma pasta relativamente homogênea. Se quiser pôr um fio de azeite extra-virgem vai ficar ótimo. Eu me esqueci...

Batatas cozidas, corte-as em rodelinhas pra jogar dentro do liquidificador. Se a manteiga não tiver derretido bem na batida anterior, agora vai. E se seu liquidificador não aguenta o tranco de bater batatas, não use leite pra facilitar: o sabor característico da receita será afetado; prefira cozer um pouco mais as batatas e amassá-las com um garfão ou com aqueles espremedores, pois a ideia é um purê bem consistente, que se come com uma salada ardidinha e outros acompanhamentos apimentados ou azedos.

Quando as batatas e tudo o mais forem já um purê, é que se acrescenta a dose de whisky. Bate-se bem. Pronto.

Não fica com gosto de whisky. Por isso também não se deve usar muito tempero (nem pensar em cebola e alho, por exemplo), é o gosto da batata doce que, com o iogurte e o whisky, se acentua, se aprimora, sofistica... é batata doce, sim senhor. Por aqui fez o maior sucesso! Com os da casa e com uma visita querida que tivemos ontem. Ainda bem que tinha essa iguaria pra oferecer! Tão bom ver a visita saboreando alguma delícia da nossa cozinha, não é?

A salada que fiz tinha nabo e cenoura ralados, uns tomatinhos cereja em metades, folhas de acelga, rúcula e alface picadas, tudo bem misturado, regado a azeite grego. Super combinação!

Quem me deu a dica dessa receita foi um casal de amigos gulosinhos que sempre estão descobrindo coisas divinas. Eles me deram um presente lindo: um livro chamado The book of yogurt, de Sonia Uvezian. Adaptei uma das receitas dela.

Último toque: claro que não precisa ser um superwhisky caro, mas não use whisky ruim. É só uma dosesinha, mas ela é o spiritual e, convenhamos, se não for um espírito elevado, não vale a pena...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

diquinhas


Recebi esta manhã duas mensagens de gente bacana que passeia por esta cozinha (que sorte a minha!) e também li um comentário postado sobre o festival de chuchu, daí me ocorreu partilhar três diquinhas das boas:
1 – ainda sobre chuchu: gozada essa coisa de o termo servir para referir o que é totalmente sem gosto, ofensivamente mesmo, tipo “aquele cara de picolé de chuchu...” ou coisas fofinhas, queridas, tipo “ela é mesmo um chuchu, não é?”. Mas vá lá, sobre o chuchu na sua categoria leguminosa, sempre nutritivo, há três outros modos de comê-lo deliciando-se:
  • o chuchu ralado refogado no alho é muito bom pra engrossar molhos de tomate, basta acrescentá-lo, depois de refogado (se possível, deixe pra salgar depois), no molho caseiro ou no purê de tomate pronto e deixar em fogo baixo por uns trinta minutos. Dá pra acrescentar um cheiro verde fresco, um alecrim ou os temperos de sua preferência para molhos. Se houver quem implique com chuchu na casa, nem conte que tem chuchu no molho, e use-o pra fazer tudo o que faria habitualmente – todo mundo sai ganhando, inclusive o molho!


  • também dá pra usar chuchu ralado no cozimento do arroz, de qualquer tipo de arroz: óleo na panela, cebola ou alho refogados, chuchu ralado, mexidinha geral, um pouco de tampa, depois o arroz, a água, outros temperos habituais, se houver, e pronto – é aguardar o tempo habitual de cozimento.

  • com pinhão. Sim, esta mistura é dos deuses! O mesmo bom chuchu ralado refogado no alho daquele jeitinho lá e, no final, acrescentam-se um tequinho de manteiga (uso ghee) e rodelinhas de pinhão – que já terá sido cozido e descascado, claro. (Soube ontem que já existem por aí, à venda para qualquer mortal, descascadores de pinhão, viva!)
 
 2 – sobre gordura de frituras empesteando o ar: se você espreme um limão (tipo tahiti) com bastante suco numa tigelinha de boca larga e deixa ao lado do fogão logo após a fritura (do que quer que seja), acontece uma coisa mágica: o cheiro pesado de gordura vai se dissipando e, no fim da refeição, já não vai parecer que ali na cozinha houve disso. Pode deixar até o dia seguinte, pra garantir. É incrível o efeito.
 3 – sobre aspargos (esta aprendi com minha mãe ontem, que aprendeu com uma amiga anteontem): cozinhe os aspargos em fogo baixo, baixo, numa leiteira, com as pontinhas viradas pra cima e água só até pouco mais que a metade deles. Ficarão macios, com a cor bem viva e perderão o mínimo de nutrientes nesse processo.
Detalhe: ponha os aspargos na água quando ela já estiver quente. Cozer desde a água fria é bom só no caso dos vegetais que nascem debaixo da terra, sabia?
Dia destes conto o que aprendi a fazer com aspargos, que, em geral, são bem mais considerados do que os chuchus, mas também são tão incompreendidos...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

chuchu assim e assado


Ontem, quando nos sentamos à mesa, alguém comentou: “nossa, mas é o festival do chuchu!”. De certo modo era uma reclamação, mas eu não liguei muito, sei dos cacoetes que todos temos, e que alguns têm o cacoete de reclamar, pequenas reclamaçõezinhas, bufadas ao longo do dia, piadinhas em forma de praguejamentos... 

Há quem veja esses xinguinhos como inofensivos, mas eu tendo a achar que não fazem bem, não; parece que vai acontecendo um efeito “mântrico”: evoca-se, a cada pequena praga rogada, um certo espírito, um certo clima, um certo modo de habitar o mundo, e acho mesmo que isso vai dar numa espécie de sintonia com o que vibra aí, no lugar do desgosto, do desconforto, do mau humor...

Mas, enfim, o que importa aqui é dizer que, estando a gente de bom humor, é deixar esse tom ecoar pela cozinha sem lhe dar força: não repliquei, não comentei e gostaria de dizer que ignorei... torço pra chegar a fazê-lo um dia.

Em todo caso, a meu favor há o próprio chuchu. Trata-se de um alimento riquíssimo, relativamente abundante e barato, cheio de potássio, vitamina A e C, cujos brotos têm também vitamina B, cálcio, fósforo, ferro... e por aí vai. E se alguém acha que o chuchu é sem gosto e prefere tomar isotônicos de grife pra repor os sais minerais, é porque não soube preparar esse fruto – o que pode ser bem fácil.

Aqui vai o chuchu assim

Pra fazer rapidinho e comer com arroz, feijão e uma bela salada: depois de superbem lavado e de retiradas aquelas partezinhas da casca que espetam (nem todos têm disso), rale o chuchu inteiro no maior buraquinho do ralador, pingue uma pimentinha de cheiro nele ralado e misture, pra ir “pegando”, reserve.

Numa frigideira, verta um fio de óleo suficiente pra “lavar” toda sua extensão, mas sem fazer pocinha. Aqueça em fogo médio um pouquinho e jogue alho – uns 2 ou 3 dentes médios: picado em quadradinhos mínimos-ínimos, bem esmagados ou em flocos, de modo que se espalhem sobre o forro de óleo.

O alho logo vai dourar – é bem rápido mesmo! Aí é hora de jogar o chuchu ralado e, com uma espátula, revolver bem essa mistura, tampar por uns dois minutinhos em fogo baixo, depois deixar cozendo sem tampa, com uma pitada de sal e nova remexida geral. Assim que os fiapos de chuchu ficarem transparentes – o que é bem rápido! – está pronto. Bom demais, e não leva nem dez minutos.

Como vieram muitos chuchus na semana passada, fiz esse refogado de novo noutro dia, só que acrescentei quadrados grandes de tomate (sem semente) e de cebola e, ao juntar o refogado com o macarrão (um fusilli de massa integral), usei uma colher de sopa de ghee (manteiga clarificada, lembra?). Una pasta naturebba - delícia!

E aqui vai o chuchu assado

No liquidificador, nesta ordem:

• 1 chuchu grande (bem lavado e sem as partes espetadinhas da casca, e valem também os brotos, os talos, tudo o mais)
• 1 cebola média
• 1 colher de sopa bem cheia de farinha de trigo branca
• meio copo de leite (uso desnatado em pó)
• um pouco de sal
• noz moscada ralada (eu uso bastante, adoro)

bate-se um pouco

• se tiver cebolinha, mande ver (eu não tinha...)
• ½ colherinha de café de fermento em pó
• 2 ovos (de galinhas felizes!)

bate-se até ficar com aspecto homogêneo

• 4 tomates secos conservados em azeite

bate-se só um pouco, pra sobrarem pedacinhos do tomate seco, que tem um sabor bem marcante.

Numa forma refratária levemente untada:

• ponha cubinhos de queijo branco espalhados no fundo
• depois a massa (que fica mais pra líquida mesmo), distribuída suavemente, em movimentos de vai-e-vem.

Por cima, um pouco de queijo ralado (usei padrão com pouco sal, mas vale qualquer um, conforme o gosto do freguês).

20 minutos de forno médio (dou uma aumentada no finalzinho do processo, pra fazer casquinha, porque aqui em casa isso faz o maior sucesso).

Falando sério: reclamar do “festival de chuchu”?! Esse povo devia era cantar e dançar em regozijo, não é não?!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

dia internacional da parteira



De algum modo que pareceu muito convincente, os partos foram parar no hospital e, daí, cada vez mais medicalizados, viraram cesarianas mesmo quando não há necessidade dessa intervenção cirúrgica: frequentemente, a agenda “favorável” se sobrepõe ao tempo de gestação...
Não me estendo sobre isso, pois sabemos onde vai dar.
No Brasil, há notícias interessantes que vão na contramão disso; parece que mais de 400 mil partos por ano são feitos por parteiras tradicionais, e a profissão de obstetriz, que tem curso superior reconhecido, é ainda uma luta jurídica, mas com boas perspectivas.
O fato é que nasce muita gente pelas mãos dessas mulheres – oficiais ou oficiosas, cumpridoras de uma sina ou donas do destino escolhido, são sempre seres cheios de alegria, a pôr no mundo a esperança infinita que toda criança é.
Vivas às parteiras! Vivas!
Vivas ao parto humanizado! Vivas!

 

domingo, 2 de maio de 2010

cará na farinha de rosca


Sabe-se que o cará, considerado por muitos “parente do inhame”, tem lá suas diferenças com o tal. Em todo caso, são dois purificadores maravilhosos e, cada um a seu modo, podem trabalhar em favor de nossa imunidade. Muitíssimo. Mesmo.

Mas é gozado como aqui em São Paulo ele é frequentemente tratado como comida de gente antiga (“minha mãe fazia lá em...” ou “a avó da fulana sempre...”) ou como comida de gente pobre (um demérito, conforme a classificação dos pobres de espírito – que deles há muitos por aí...). Pois o tal do cará costuma ser rejeitado hoje, sobretudo pelos pouco afeitos à cozinha de todo dia, tanto porque o que se considera chic é cozinhar pratos “incríveis” em “dias especiais”, tanto porque o cará não tem um aroma retumbante (pois é, a acultura dos flavorizantes fez, sim, um estrago enorme nos paladares...) e ainda por cima solta uma gosminha etc.

Bom, de saída, fritar em rodelinhas já elimina esse “problema” da famosa gosminha – e isso basta pra sentir o sabor incrível desse superfortalecedor do organismo. Mas como não sou dada a frituras, conto um modo cotidiano de preparar o dito cujo, fácil de fazer toda vida: cará na farinha de rosca. E, sim, está valendo usar inhame.

Cozinha-se o cará no vapor, de preferência. Usei 5 pequenos – só pra dar uma ideia da quantidade relativa aos outros ingredientes.

Observação: o cará cozinha rápido, e como ainda vai passar pela frigideira, é bom não perder o ponto: quanto mais a gente vai cozendo um alimento, mais energia dele vai perdendo, né?

Enquanto isso, picam-se:
- duas cebolas médias em lascas verticais, mais pra finas;
- um ramo de cebolinha;
- dois dentes de alho gordinhos.

Ah, estou considerando que a farinha de rosca já estava pronta, pois costumo passar no liquidificador as sobras de pão, dois dias depois, quando o pão já está durinho, esfarinhando.

As lascas de cebola vão ser refogadas num bom fio de óleo (um fio, não é pra fazer piscininha), numa frigideira ampla, que permita ficar mexendo sem seu conteúdo cair pelas bordas. Elas, as lasquinhas de cebola, ficam ali sozinhas até começarem a dourar (na verdade, quase queimar – isso dá um gostinho supimpa na farinha!).

Aí, nesse momento do quase queimar, é que entram os pedacinhos de alho, que logo douram.

Então, vem a farinha de rosca, e o negócio é ficar mexendo pra lá e pra cá, pra ela tostar aromatizando-se. Usei uns 100 gramas (não é exatamente uma farofa, então não usamos muita, e também dá pra usar farinha de mandioca, fica com outro gostinho, muito bom. Mas o lance aqui na cozinha hoje é aproveitar o pão dormido).

Nesta altura, entra a cebolinha picada. E eu pus também uns bons pingos de pimenta de cheiro.

Tudo isso em fogo médio pra baixo, sendo remexido o tempo todo, naquela agilidade animada que tostar uma farinha requer.

Estando sutilmente tostada (e não queimadinha, como era o caso da cebola), tire a mistura da frigideira e reserve, sem tampar (pra ela não correr o risco de “amolecer”, umedecer com o bafo etc.). Na mesma frigideira, com os resquícios da mistura que preparou (não vale lavar, pois se perderia parte do tempero), jogue dois ovos (de galinhas felizes, claro!) batidos como se fosse pra omelete. E mexa, pra eles ficarem em pedacinhos, que você deve salgar com parcimônia.

Daí é juntar com esses ovos mexidos, na frigideira, com o fogo desligado, o que estava reservado, e picar o cará cozido em pedacinhos bem miúdos, quadraditos. Pinguei umas gotas da mesma pimenta de cheiro e pus um pouco de sal nesses quadradinhos antes de juntá-los a tudo o mais, pra uma última remexida, ligeiramente tostante.

Observação: é possível acrescentar os quadradinhos de cará antes de fazer a operação com os ovos, isso o deixará mais tostado, mais sequinho. Do modo como fiz, ficou mais pra molinho, como se fossem minibolinhos “empanados” pela mistura de farinha de rosca.

O tempo total de preparo?! Custa mais explicar que fazer: uns 15 minutos, se tanto.
Com um feijão do Rixá, um creme de abóbora simples, mais um arroz integral cozido com brócolis, cara, viva o cará! Tudo de bom!