terça-feira, 29 de junho de 2010

enchentes em Alagoas e Pernambuco


Como muita gente não sabe o que dá pra fazer já, e a internet pode ser esta maravilha que multiplica as chances de socorro e os laços solidários, registro que os Correios do Brasil estão recebendo, desde 25/06, quando se decretou estado de calamidade pública em Pernambuco e Alagoas, doações em espécie.

Estão precisados, neste momento, de produtos de higiene pessoal, como sabonete, pasta de dente, escova de dente, xampu etc., e produtos de limpeza, como álcool gel, rodo, vassoura etc.

O doador deve embalar os produtos em caixas que não ultrapassem 30 quilos. Vale a pena lembrar: cuidando para que nenhuma embalagem corra o risco de estourar.

Segundo informações no site dos Correios, o envio é gratuito e deve ser remetido a:

Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Alagoas
Rua Laverene Machado, 80.
Trapiche da Barra
cep: 57010-383    Maceió – AL


“Blog destinado a reunir notícias sobre os esforços do Brasil em ajudar as vítimas das enchentes dos estados de Pernambuco e Alagoas. Aqui, você vai encontrar as notícias sobre os trabalhos do Governo Federal na mobilização da ajuda, bem como ter acesso a imagens, vídeos, áudios e serviços para a população dos estados afetados.”

sábado, 26 de junho de 2010

compota de goiaba vermelha com baunilha


Já vou logo avisando que é baunilha mesmo, da vera baunilha, a flor: uma orquidácea que, seca, guarda aquele aroma tão peculiar, que é imitadíssimo, mas, no fim das contas, inimitável. Em geral são mesmo enjoativos os produtos que têm a “baunilha de laboratório”. Mas eu ganhei duas flores já secas, nunca tinha visto. Ficam parecidas com pauzinhos de canela macios, porque se deve secar a flor toda coladinha, de comprido.
O amigo querido que me deu esse presente disse que costuma deixar um filete de baunilha no açucareiro, o açúcar fica simplesmente dos céus. E não tem nada a ver com o adocicado de confeitaria prêt-à-porter; é um aroma de flor.
Claro que esta compotinha pode muito bem ser feita sem a baunilha – dá certo e é boa toda vida. Com um queijinho meia cura bem curtido, então... Mas esse tequinho de baunilha natural que a gente põe faz a compota ser outra, juro.
As goiabas por aqui andam muitas e tenras, e eu, doida por um docinho. Daí foi só juntar os ingredientes – tirando a baunilha, tudo coisa do dia a dia:

  • 5 goiabas vermelhas – umas bem madurinhas, outras mais verdinhas (esse contraste é importante)
  • 2 xícaras de café de açúcar mascavo
  • 2 xícaras de café de água
  • 4 cravos
  • um tiquinho de noz-moscada (ralada na hora)
  • 1 cm de baunilha seca
  • mel quanto baste (ele adoça e também dá uma textura)

 A sequência de passos é importante:
Pique as goiabas, deixando as cascas (bem lavadas, retiradas impurezas e bicadas de passarinho), jogue-as numa panela de fundo mais grossinho (eu uso uma de barro), use fogo baixíssimo. Aliás, o tempo todo: baixíssimo. As compotas são doces curtidos, doces que não dão trabalho mas levam tempo.
Depois de um minutinho, acrescente o açúcar mascavo, misture, deixe mais um minutinho. Acrescente, então, a água, misture bem, deixe mais um minutinho. Daí acrescente o cravo, a noz-moscada ralada na hora e a baunilha, que deve ser gentilmente esmigalhada sobre a mistura.
Só o mel vai esperar pra entrar.
Mexa bem e deixe o molho reduzir. Vá ler, ouvir música, lavar o quintal, passar roupa, brincar com os cachorros, olhar emails... Volte de vez em quando e mexa.
A goiaba vai começar a desmanchar, a gente ajuda com a colher de pau, macerando os pedaços maiores, mas sempre deixando sobrar algum pedaço. A ideia não é um creme homogêneo, pois os pedacinhos com casca têm um azedo ligeiro que é imprescindível no meio do doce. 
Quando a mistura estiver pastosa, acrescente o mel, mexendo suavemente. Desligue o fogo e deixe a panela esfriar. Nas panelas mais grossinhas, ainda ficam acontecendo umas borbulhas. Ótimo, a ideia é depurar um pouco mais, deixando evaporar ainda um pouco de água. Não tampe.
Quando a panela estiver morna, passe a mistura pro vidro onde a goiaba vai curtir na geladeira, por 24 horas no mínimo. Em tempos frios, tiro da geladeira pelo menos meia hora antes de servir; nos tempos de calor, tá valendo gelada mesmo.
A baunilha é muito sedutora, insinuante, agradável. Faz da compota um pitéu. Recomendo.
Agora, se estiver sobrando goiaba e não houver baunilha na casa, faça assim mesmo (que doce de goiaba é tudo de bom); mas cogite descobrir onde há baunilha de verdade por perto, pra experimentar esta versão divinal.
***
Sobre batata doce com whisky, hoje fiz de novo, mas a batata doce era daquelas de polpa roxa – fica linda toda vida! E vai muito bem com bastante cebolinha fresca picada em tirinhas bem finas.

sábado, 19 de junho de 2010

ovos cozidos recheados


Uma das muitas coisas que aprendi lendo José Saramago foi pensar no tempo como experiência de temperança. Pra quem não conhece nada de Saramago, eu sugeriria a crônica “O tempo e a paciência”, publicada no livro A bagagem do viajante.

No mais, rendendo homenagem, ofereço uma receita portuguesa daquelas bem simples e lindas.

Antes de mais nada, sobre os ovos (de galinhas felizes sempre!), lembremo-nos de que são alimentos dos mais preciosos, gerados num longo e complexo trabalho, a serem usados com parcimônia. Aliás, que alimento poderia ser tratado de outro modo...?


Vamos aos ovos cozidos recheados.

Cozinhe quantos ovos lhe parecer. Depende do número de convivas, dos acompanhamentos, etc. Acho que combina com tudo. Inclusive como entrada de um jantar mais sofisticado.

Eu gosto de cozinhar em pouca água e em fogo bem baixo. O importante é que os ovos cheguem a uma consistência firme o suficiente pra partirmos ao meio sem desmanchá-los.

Então, partidos, retiram-se as gemas, que vão ser esfaceladas num pote à parte. 

As claras são mergulhadas numa mistura de azeite, sal e temperinhos. Eu gosto de um pouco de alho ou alho poró socados; pó de alecrim também é bom, ou cebolinhas maceradas... a experimentar. Deixe as claras mergulhadas por uns minutinhos, depois organize-as numa travessa conforme seu “projeto gráfico”. Fica bonito e bem gostosinho cortar tomates (misturando maduros e verdes) em pedaços miúdos, que são mergulhados na mesma mistura de azeite e temperos das claras, e vão pra travessa entremeando as canoinhas brancas. E também fica muito saboroso com fitas de pimentão vermelho grelhadas.

Lá no pote à parte, mistura-se às gemas o que sobrar da mistura de azeite e temperinhos, acrescentando um tempero verde fresco e uma pimenta. O que me foi ensinado como “clássico” é cheiro verde picado bem miudinho e pimenta do reino (acho que moída na hora fica mais gostosa).

Daí é fazer a massa de gemas usando um bom garfo. É só amassar bem e ir corrigindo com azeite, conforme a consistência pretendida. Já está: basta preencher gentilmente as canoinhas de clara com esse “patê” de gema.


Há quem salpique parmesão ralado bem fininho por cima do prato montado. E mais azeite. Ou azeitonas.

Por fim, eu podia dizer que é uma receita bem rapidinha – uma qualidade muito procurada nas receitas. Mas o que importa aqui é que é simples, e que permite a experiência do tempo vivido mesmo que seja rápido.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

paçoca de castanha-do-pará


Ai, quanto tempo longe da cozinha! Fico desnorteada, sabia?, de tanto que incorporei esse fazer cotidiano, essa criação nossa de cada dia... E eu até que comi bem estes dias, não é disso que falo, mas da falta que faz estar ali na bancada inventando moda.
Estive trabalhando em Maringá, uma cidade linda! E de lá emendei pé a visitar uma amiga em cuja cozinha fizemos o que conto hoje: paçoca de castanha-do-pará.
Muita gente não pode com muito amendoim, e tem gente que deve, por indicação nutricional, comer castanha-do-pará, e foi daí que nasceu essa paçoca simplemente deliciosa. Devo dizer que a primeira vez que comi estranhei, porque esperava aquele gostinho clássico de paçoca, mas aí minha amiga disse: “lembra rapadura, só que tem uma nota de sofisticação que leva pra outro caminho”, e então, com meu repertório podendo reconhecer, em certa medida, o que degustava, peguei a trilha, fui apreciando e acabou que adorei. Quis fazer junto com ela pra trazer, mas chegaram visitas e não sobrou nada nada! Só que é uma receita facílima, logo reproduzi por aqui. E vou dizer uma coisa: em dias frios, puxa!, aquece a gente.
Então, na sintonia destes tempos de comidinhas de São João, lá vai.

Ingredientes básicos (dá pra fazer altas experiências sobre esta base)
2 xícaras de açúcar mascavo (diz que com demerara dá certo também)
½ xícara de amendoim descascado e torrado (sem sal ou óleo)
1 e ½ xícara de castanha-do-pará crua
½ xícara de farinha de mandioca torrada (com farinha de rosca diz que também fica bom)
½ xícara de água (ou leite, pra quem quiser uma paçoca mais cremosinha)
4 colheres de sopa de mel (puro; se for daqueles preparados de supermercado, fica doce demais)
2 colheirinhas de café de sal marinho

Pra fazer
Derreta, numa panela de fundo grosso e em fogo baixo, o açúcar, acrescentando aos poucos a água (ou o leite, e parece que se for desnatado fica ótimo). Enquanto isso, no liquidificador ou no processador, triture amendoins e castanhas, acrescente a farinha e o sal, misture bem.
É possível pilar tudo isso. Eu não tenho um pilão grande, o que é uma pena... Com uma música ritmada, socar pilão é um ritual divino – e realmente se sente isso na comida, depois. Mas, mesmo usando um processador, dá pra deixar de fora alguns amendoins e castanhas que são picados à mão, em pedaços maiorzinhos, que serão encontrados em cada mordida com aquele prazer do achado, sabe?
Daí, numa forma bem rasa, que aguenta o calor do açúcar derretido e pode ir à geladeira sem sustos, verta a farofinha, a calda e os pedaços maiores de amendoim e castanha, misturando tudo com uma espátula até a mistura parecer homogênea. Duas horas de geladeira e pronto: é cortar em quadradinhos e pôr na roda (e não precisa mais voltar pra geladeira, não).
Com café ou chá de cidreira fica muito bom. Também como merenda pras crianças e, se você tiver um bom melaço de romã e umas folhinhas de hortelã, dá uma sobremesa chiquérrima. É só montar o prato: dois quadradinhos de paçoca e um raminho de hortelã sobre eles, que serão regados com um bom fio do melaço.

Se tiver uma cachaça curada, é bem a hora de oferecê-la aos convivas.
***
Ia terminar aqui, mas houve um telefonema em que me disseram: “a paçoca é o estereótipo da festa junina, né?”, daí resolvi dizer mais umas coisinhas, sobre estereótipos. Vi no aeroporto, estes dias, um best seller que dizem pegar carona noutro best seller, supostamente uma versão masculinha, intitulada Comer, jogar, foder, da versão feminina Comer, beber, rezar (há variantes, entre elas Comer, beber, amar)... Li e ouvi, enquanto tomava o inescapável chá de espera das viagens aéreas, comentários acalorados sobre o “oportunismo” ou a “agressividade” do autor (e, claro, de cada um de seus leitores) ao “estereotipar” o “original” de uma autora “séria” e “profunda” (que tem lá suas leitoras, sérias e profundas, claro).
Bem, fico pensando se os best sellers são sempre estereótipos – será? E, se são, quando são (porque acredito que possam não ser...), por que vende tanto essa estereotipia? Será que, no caso comentado, o tal autor apenas pegava carona na obra da tal autora, ou estabelecia com ela uma conversa, explorando a perspectiva de um homem a fazer uma grande viagem de libertação, como fizera uma mulher no primeiro livro? Será que os tais comentários supõem mesmo que homens não rezam e mulheres não jogam (rs)? E será mesmo que assumir diferenças entre modos masculinos e femininos (e não necessariamente modos “de homem” e "de mulher”) de viver certas experiências implica sempre estereotiparmo-nos?
A paçoca de castanha-do-pará não quer ser melhor do que a clássica paçoca de amendoim; é outra, é uma alteridade: só faz firmarem-se as singularidades e as identidades e, assim, permitir trocas, variações, fusões... com sorte, transmutação!
Ó só: 

  • fica uma delícia macerar essa paçoca no creme de abacate!
  • fica gostosíssimo cortar maçãs em gomos longitudinais e esfarelar essa paçoca por cima!
  • fica bom demais cortar em pedacinhos miúdos bananas, gomos de laranja (sem pele) e paçocas!
 Diz aí?!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

ovos pochê e talos


Gente do céu! Acabo de descobrir como eu estava curiosa por saber um pouco sobre meus novos vizinhos. A casa ao lado esteve vazia por muitos meses e acaba de receber crianças, cães e uma mãe conversadeira e expansiva. Não conversei com ela ainda, mas os quintais, como todos sabem, são esse território da partilha tácita, sobretudo nas grandes cidades, em que tudo se amontoa. E é perigosíssimo quebrar o que se silencia a respeito, pois implicaria uma intimidade que não temos, pelo menos a princípio, com vizinhos de muro; mas é impossível dizer que não se sabe de nada: sabemos muito uns dos outros pelo que se diz nos quintais e muitas vezes também nos banheiros, cujas janelinhas, quase sempre muito tênues, dão-se a um “lá fora” que é quase sempre bem perto da casa do outro… 

Enfim, como acabam de chegar, tudo está por ser arrumado, pode-se imaginar que em poucos dias já sabemos um bocado de coisa sobre eles, gritadas uns pros outros, ora numa delícia de casa nova, ora num nervosismo de ver tanta coisa por fazer... Os cães latindo pra tudo o que se move, meio sem lugar e sem rotina... Uma família, enfim, instalando-se. 

Inevitável me perguntar o que será que já sabem de nós… Mas eis a regra de ouro: jamais falaremos sobre isso, pra seguirmos bons vizinhos, solidários e não invasivos. É o que desejo: que estejamos em harmonia, que os gatinhos daqui e os das outras casas, que passeiam muito por estas bandas, logo percebam que há dois cães bem jovens e cheios de energia onde antes eles vinham tomar o sol da manhã.

Mas eu contava era que me percebi atraída pra cozinha mais cedo hoje. Minha cozinha dá porta pro quintal deles, onde muitos tapetes estão sendo lavados e há uma conversa boa entre duas mulheres… Candinha, eu? Acho que não, não tenho a quem contar o que ouço e nem quero sair contando nada, apenas sinto essa necessidade enorme de me aproximar e receber – acho tão importante estar de bem de quem mora na parede ao lado!

Bom, vai daí que fiz um almocinho cedo toda vida! De roça. Estava pronto às 11h30, pode? E deu tempo de vir aqui postar uma das coisinhas práticas que fiz; é uma receitinha bacana pra aproveitar talos. Eu tinha talos de brócolis e de couve-flor, e um monte de cenouras, que são ótimas pra dar um sabor mais forte aos talos. É assim:

Se tiver, use um processador (confissão: minha mãe me deu um como complemento do liquidificador e eu, na hora, fiz um muxoxo, achei exagero, uma desfeita, no fim das contas. Já pedi desculpas pra ela e contei as maravilhas de que um processador nos torna capaz). Em todo caso, dá pra ir no liquidificador, no ralador manual ou mesmo na velha e boa faquinha – só demora mais, mas, se houver tempo e uma boa música, vai que vai!

Triture, moa ou pique em pedaços bem miúdos os talos. Também dá pra fazer isso com chuchu (mais uma ideia pro tal do festival!) e as cenouras, mas ainda sem misturá-los. As quantidades dependem do que se tem à mão e do que se quer como sabor final, é experimentar e divertir-se com isso.

Eu tinha dois talos de brócolis, poderosos mesmo, que vieram na cesta da semana passada. Resolvi deixar o talo de couve-flor pra outra ocasião. 

Atenção: não use as folhas nesta receita, soltam muita água e alteram demais o tempo de cozimento dos vários ingredientes. Outra coisa: essa receita é boa com talos mais durinhos, mas tudo é uma questão de controlar os tempos de cozimento, ou seja, as texturas que vão sendo obtidas no processo.

Forre o fundo de uma frigideira com bastante alho socado ou picadinho e um bom fio de óleo. Eu tinha umas folhas de alho poró, que cortei em tirinhas finas e pus junto. Deixe dar uma escurecidinha nos alhos e, então, jogue sobre esse forro os talos processados, recobrindo tudo. Tampe a panela – em fogo bem baixo – pros talos se aromatizarem bem. Deixei os meus por uns quase dois minutos, enquanto ia triturando as cenouras, que foram sendo acrescentadas depois, com gestos suaves de mistura, aos poucos, pro sabor do tempero ir impregnando cada fragmentozinho de legume.

Aí, então, você pode acrescentar um pouco de água, uns dois dedos pra quantidade que fiz, e tampar, deixando sempre algum escapezinho pro vapor (se não, os legumes escurecem muito e perdem parte de sua beleza). Se gostar, ponha nesse momento uma pimentinha. Eu moí na hora um pouco de pimenta branca.

Em quinze minutos já tinha obtido uma textura de cozido “al dente”, momento ótimo para acrescentar um pouco de sal, mexer bem a mistura, e acrescentar depois um tanto de queijo ralado por cima. 

Importante: a quantidade de sal tem de levar em conta o tipo de queijo que se vai usar pra liga. Eu pus pouquíssimo sal porque usei queijo meia cura, que já é bem salgadinho. Usei uns 30 gramas de queijo meia cura.

Deixe o queijo dar aquela primeira derretida e aí misture tudo, suavemente, provocando a formação de uma certa pasta de queijo e legumes; daí, com um garfo, ajeite essa “pasta” de modo que fique uniformemente distribuída. 

Tampe a frigideira – que deve ter o tamanho adequado pra todas essas operações e pra quantidade de ovos (de galinhas felizes, claro!) que você vai cozer – e agora, momento crucial, de muita gentileza e ligeireza: quebre os ovos, um a um, depositando-os sobre os legumes e tampe. O momento é crucial porque você não pode demorar muito a pôr todos os ovos; se não, ficam com tempo de cozimento muito distintos, ou seja, essa sincronia é a chave do sucesso. Então é bom preparar o espaço em que a quebra dos ovos vai acontecer, pra não perder nenhum, estourando afoitamente uma gema, por exemplo. De mais a mais, essa preciosidade tem de ser tratada assim mesmo, com toda essa gentileza e agradecimento, não é? (a superprodução desenfreada dos ditos ovos de granja acabou roubando da gente esse respeito pelas galinhas, o que é também uma grande falta de respeito com a gente mesmo, diga-se). 

Quando os ovos estiverem todos devidamente esparramados sobre os legumes, salpique um pouco de sal sobre gemas e claras – pouquinho mesmo.

Aqui na cozinha, em dez minutos as gemas já estavam bem durinhas e toda a água tinha evaporado.


Nesses dez minutos, aproveitando o processador que estava por ali, dando mole, fiz uma salada de rabanete e alho poró triturados, que misturei com vários tipos de folhas rasgadas à mão e reguei com um molho de iogurte e mostarda. Isso tudo com um arroz integral e um belo feijão do Rixá, nossa! Lar doce lar, não é não?


Que seja esse, então, um almoço de celebração do espírito com que recebo meus novos vizinhos. Bem-vindos sejam a seu novo lar!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

risoto de espinafre



Já falei muito desse risoto, assim, lateralmente, porque nós aqui temos tido muito espinafre, amém! É que espinafre, além de gostosinho e saciante, tem ferro, cálcio, vitamina A e vitaminas do complexo B. Ou seja: é luxo só. Aliás, aprendi outro dia com uma vizinha nutricionista que é bom tomar suco de laranja em refeições que têm espinafre, ou usar gomos de laranja em saladas com suas folhas, pois essa composição favorece a absorção de ferro; logo, é superboa pedida pra quem anda com falta de vontade de qualquer coisa, com anemia, com melancolia...

Por aqui, lavo as folhas pra estocar, conforme contei outro dia, e no caso do espinafre, cujas folhas são bem tenras, ótimas pra saladas de inverno, vou usando em diferentes combinações. Uma delas: ficam deliciosas quando picadas junto com alface americana e regadas com um bom azeite e um condimento de mostarda bacana, tipo dijon. Com arroz e feijão fica o fino! Ou pra acompanhar tortas, quiches, suflês... hummm... hummm... hummm...
Importante: nas saladas ponho só a folha do espinafre, mas não jogo fora os talos e brotos, que têm uma quantidade enorme de nutrientes e energia e, por isso, vão pra geladeira num potinho à parte. Daí, quando já passou uma semana ou mais que o espinafre está por lá, havendo ou não folhas, bato no liquidificador com um tequinho de água, o suficiente pra máquina girar, e guardo num pote na geladeira. Dura bem uns dois dias. Você pode dar uma "amolecida" no espinafre antes de bater, aproveitando o vapor de algo que está sendo cozido; pode pôr num escorredor de macarrão, por exemplo, em cima da panela em que está fazendo arroz. Coisa pouca, minutinhos, só pra faciliatr o trabalho de batida. Ou bate cru mesmo. Por aqui, esse é o jeito de deixar encaminhado o risoto, que faço assim:

  • uma cebola grande picadíssima vai pra panela de fundo grosso e fica refogando num fio de óleo de girassol; depois de transparente, quase queimadinha, jogo uma xícara de arroz para risoto (os brasileiros – há vários já – são mais baratos e muito bons); depois jogo bastante cebolinha picada (desta vez usei da minha horta, estava tão viçosa!, aí, neste caso, pico mais grossinha, porque ela tem um sumo especial); misturo isso tudo um pouco e deixo em fogo baixo, panela semitampada, pra “defumar” um pouco o arroz;
  • enquanto isso, vou produzindo um caldo numa chaleira cheia de água: os pedaços mais feinhos da cebolinha, um preparado de manjericão em pó e sal, um dedinho de açafrão... – cada um faz o caldo de que gosta; muita gente, por praticidade, usa aqueles tabletinhos prontos (eu nunca usei, acho que têm muito sódio, não têm?). O importante é fazer um caldo gostoso, que vai ficar em fogo baixo depois da fervura;
  • aí é ir jogando, aos poucos, conchas do tal do caldo sobre o risoto, que fica sempre com pouco líquido e vai sendo mexido com uma espátula, pra não colar no fundo da panela; e também vão sendo vertidas, ao longo do cozimento, conchas do preparado de espinafre;
  • ...rega, mexe, rega, mexe, rega, mexe... até dar o ponto, que tem de ser pressentido ou percebido, porque seria falso dizer que demora x ou y: varia muitíssimo conforme cada fogão, a temperatura ambiente, os ingredientes envolvidos e sabe-se lá que outras vibrações e influências;
    • quando o arroz estiver gordinho e macio, a “massa” já deixando ver o fundo da panela a cada mexida, acrescentam-se uns dois dedos de manteiga (ou ghee), mexe-se; depois, acrescenta-se o queijo ralado na hora (usei uns 100 gramas de padrão pra esse momento, mas ralamos um pouco de parmesão pra quem quisesse pôr por cima, no prato já servido); mexe-se até tudo virar uma massa só. Pronto!

    Ah, o sal fica pra mexidona final e deve ser calculado conforme os queijos usados e os eventuais acompanhamentos, molhos, etc. É sempre bom experimentar um tico antes de salgar, às vezes nem precisa pôr sal.
    Ah 2, eu usei uma pimentinha de cheiro misturada no espinafre batido, antes de começar a regar o arroz; dá um tom mais quente - e aqui está um dia frio à beça.
    Ah 3, com tomatinho cereja em metades ou quadradinhos miúdos de tomate carmem ou italiano em volta do prato faz-se tudo parecer de gala. Hoje eu não tinha...
    De sobremesa, tivemos sagu de kiwi com raspas de laranja. Esse eu comento outro dia, que é bom demais da conta. Especialíssimo. Pra já, encerro meio sem festa, fica registrado um lamento: tanta coisa simples e boa nesta vida, mas tanta dor também... um ataque a qualquer navio já seria ruim demais, a um navio de ajuda humanitária, nossa! Que dizer?! Por isso hoje é um dia de muita perplexidade diante da investida de Israel surdamente apoiada pelos EUA... a pensarmos, todos, aonde estamos indo.