quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

coalhada seca

Uau! Que coisa essa histeria natalina!
Sim, eu sei, é também um tempo cheio de coisas boas, encontros queridos, comidas gostosas, de pensar e falar em fraternidade, em boa vontade... Coisas caras, caríssimas a todo ser de bem. Sim, é verdade. Mas tem também um frenesi comprativo (presentes, comidas específicas, roupas novas, passagens, pacotes de férias...), uma pressa generalizada, um trânsito que não transita, uma quantidade inacreditável de mala direta (se fosse só por email, bastava apagar; é chato, mas vá lá... e aquele monte de papel couché que chega pelos Correios, catálogos de vinhos e cestas?! Que loucura!).
Pois foi enfiada nesse mundo que hoje fiquei "presa" no trabalho e não haverá menu pra compartilhar... Compartilho isto já, porque a vida de quem cozinha tem disto: não conseguir cozinhar algumas vezes e ter de se virar na rua. Eu vou comer num lugar gostosinho aqui perto - se não for sempre, não enjoa e não intoxica (falo em “intoxicação” porque mesmo os bons restaurantes usam muita coisa processada, caldo de carne em tablete, às vezes um azeite nem tão bom... haja sódio, gordura saturada e... esses ingredientes que, se forem consumidos só de vez em quando, não dão problema, não).

E depois importa muito o lugar propriamente, se é agradável, se tem boas mesas e cadeiras, amplidão pro olhar, alguma privacidade em relação às mesas vizinhas ou mesas legais pra compartilhar etc. Comer fora pode ser bem bom se a gente não se esquecer de que é preciso dar-se o tempo de. E que não vale qualquer lugar ou qualquer coisa em quaisquer 5 minutos, de pé num boteco ou numa padaria. Quando isso acontece, é porque se está num dia de emergência total, não é?
Dito isso, vou contar como faço a coalhada seca que prometi ontem. Uma base culinária que uso muitíssimo e que todo mundo curte, mesmo quando faz muxoxo antes de provar - eu nem ligo pra isso mais, aprendi que cada um tem mesmo seu tempo, com o perdão do clichê. É só esperar pra ver: o tempo passa, e a pessoa está lá, fanzoca do que é bom nesta vida e que ela, a princípio, tinha estranhado.

coalhada seca

Um litro de leite (de preferência, dos de garrafa, não de caixinha) e um copo de iogurte (caseiro ou não, dá igual). Eu uso uma panela de pedra sabão, acho que faz diferença, sim. Mas pode ser em qualquer panela mais grossinha, pelo menos de fundo grosso, como aquelas boas de fazer risoto.

O leite vai quase todo nessa panela, só uns dois dedinhos são vertidos num pote, onde vai ser misturado com o iogurte. Em fogo baixo, o leite deve esquentar sem ferver - se ferver, já era, tem que usar como leite mesmo. A temperatura a que deve chegar é o quentume pra uma mamadeira, por exemplo: a pele aguenta bem, não queima, sabe?

Enquanto o leite vai esquentando e vc mistura o iogurte lá no pote, acenda o forno vazio.

Estando o leite quente, desligue fogo e forno, jogue o iogurte do pote na panela, mexa vagarosamente e ponha a panela com tampa dentro do forno quente, apagado. Ela deve estar semi-aberta (é muito importante que fique com uma boa abertura pros microrganismos fazerem direito seu trabalho).

Dependendo do dia - se frio ou quente, úmido ou seco etc. -, a operação vai durar 12, 15 ou até 24 horas (isso mesmo, de um dia pro outro). Como é que você vai saber se está pronto? O soro terá se “despregado” da “massa láctea”. Aí, com uma concha, é pôr esse conteúdo no coador de pano (daqueles que têm o suporte pra ficar de pé), com um recipiente embaixo, pra deixar o soro escoar todo. Nesse escoamento, você vai vendo se quer a coalhada mais sequinha, mais molinha - é ir observando. Em geral, depois de 4 horas está no ponto pasta, uma delícia pra passar no pão, em qualquer pão!

Importante: guarde no pote onde você vai misturar com azeite e sal (pouco sal, é só um elan) mexendo bastante mesmo, vigorosamente, e em cuja tampa vai fazer uns furinhos, muitos, distribuídos em toda a tampa: assim a coalhada dura mais de 10 dias na geladeira, não mofa. Se acontecer de começar a ficar rosada, dispense; não vale a pena se arriscar. Só que eu duvi-d-ó-dó que ela vai demorar tudo isso na geladeira... Mesmo na geladeira de quem mora sozinho!

Um comentário:

  1. Deus ouviu minhas preces e, agora, temos esse blog e o registro da receita dessa coalhada que eu adoro! Aliás, temos o registro delicioso de uma vida sem confusão de gosto. Aqui, só há o bom gosto, bom gosto da vida! \o/

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